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  TEMA: A IMAGINAÇÃO COMO "TEMPERO" NA VIDA DE CASAL 

Prezado/a internauta 

 

Quando trabalhei como Terapeuta de casais, sabia da importância de ajudar os casais a terem uma vida emocional e sexual mais gratificante e realizadora para os dois. E um dos assuntos que sempre é abordado em terapia é sobre o uso da imaginação, da fantasia, para que os membros do casal encontrem formas variadas de se realizarem um com o outro.

 

O artigo a seguir, pode contribuir para que os casais reflitam sobre a importância da imaginação.

Com um abraço fraterno, no ideal de um mundo humano melhor,

 

Antonio de Andrade

 

 

 

  

   

 

 

A IMAGINAÇÃO COMO "TEMPERO" NA VIDA DE CASAL

(Da Coleção "EGO - GUIA DO COMPORTAMENTO HUMANO", Abril Cultural, 1975, volume 4, páginas 773-776, artigo "O tempero da vida")

 

 

Os amantes não precisam de nada além do amor. A excitação provocada pelo simples fato de estarem juntos, bem como os êxtases obtidos no relacionamento sexual, levam-nos a acreditar que esses prazeres jamais poderão empalidecer. No entanto, a natureza humana é tão complexa que a rotina sexual pode se transformar num aborrecimento pelo fato de o padrão sexual dos parceiros se tornar excessivamente conhecido.

A imaginação fornece as balizas que podem ajudar um casal a evitar a aborrecida caminhada de uma relação sexual a outra, que, embora satisfaça uma urgência física, não chega a promover uma grande excitação. Com imaginação, um par renova sua relação todas as vezes, descobrindo e redescobrindo um novo prazer, que é negado a todos quantos acreditam que a inventividade nada tem a ver com sexo.

A variedade é o primeiro componente da imaginação aplicada. Não se trata apenas de estudar um catálogo de posições eróticas que produzam orgasmo garantido. A mudança criativa ocorrer porque um casal reconhece que sua sexualidade se expressa de inúmeras maneiras. Um casal que experimenta diversas formas de “fazer amor” - diferentes horários, posições, lugares, e, mais importante, diferentes maneiras de envolver e acariciar um ao outro - encontra estimulação contínua e grande prazer no seu relacionamento sexual.

Expressar fantasias por meio do ato sexual - ou mesmo falar delas enquanto se acaricia um ao outro docemente - pode ser uma fonte bastante fértil para um relacionamento sexual cheio de imaginação e criatividade. Uma mulher pode sonhar que seu parceiro a violenta, ou que ela o domina, ou que ambos devotam todo o seu dia a fazer amor enquanto ambos deveriam estar trabalhando e produzindo. Um homem pode  pensar em como ficaria sua companheira vestida com calcinhas eróticas, ou como seria amá-la ao ar livre, ou numa sala cheia de gente olhando. Mas se eles ficam silenciosos a respeito de suas fantasias, o ato sexual acaba se tornando uma luta muda entre dois corpos, cujas mentes estão em outro lugar.

A realidade nunca é igual à fantasia - o homem que sonha com um relacionamento a três (um homem com duas mulheres, por exemplo), pode recusar um convite para esse tipo de relacionamento - mas os parceiros que dividem e participam dos pensamentos sexuais um do outro podem se manter longe do mundo real enquanto fazem amor. Dividir fantasias, antes de mais nada, amplia o contexto do ato sexual e as possibilidades de comunicação. O sexo não está mais limitado pelos contornos de uma cama de casal, mas chega até onde a imaginação dos amantes o permite. E falar de fantasias pode, com frequência, facilitar o diálogo sobre coisas reais. Além disso as fantasias sugerem variações nos modos normais de duas pessoas fazerem amor.

A imaginação tem ainda o importante efeito de diminuir a ênfase dada à atividade genital, permitindo a um casal explorar outros níveis e maneiras de expressar seu amor. A imaginação permite a dois amantes descartar suas personalidades “sociais” e de “negócios”, a fim de que possam se aproximar um do outro sem máscaras, de maneira mais espontânea. Isso significa que os parceiros podem fazer amor sem se preocuparem com o que o outro “vai pensar”.

As regras que governam o comportamento social e público não devem ser aplicadas ao relacionamento sexual. Lábios contraídos e habilidade de reprimir qualquer demonstração de emoção podem contribuir bastante para uma bem sucedida carreira profissional, mas têm um papel muito pequeno quando se trata de amor, pois este necessita mais do livre fluxo de emoções e da excitação provocada por situações inesperadas.

Uma certa mulher, Laura, quase viu seu casamento ser destruído pela ausência de imaginação. Seu marido, Eduardo (nomes fictícios)  “era o executivo mais jovem que seu banco havia tudo” - conta ela - “e confesso que me deixei influenciar por sua situação financeira. Mas, ao me casar com ele, não esperava que se comportasse na cama da mesma maneira que fazia no trabalho, muito sério. E mais ainda, que ficasse trabalhando até tarde, toda noite, ou desenvolvendo projetos importantes para o dia seguinte. Eduardo era charmoso e galante comigo na cama, exatamente como quando  tentava persuadir alguma ricaça estúpida a não tirar o seu dinheiro da conta conjunta com o marido para dar a um aventureiro de vinte anos. Ele se preocupava com minha participação e meu prazer, mas quase como se fosse uma conta corrente que precisasse estar sempre com bom saldo médio mensal. Num determinado momento comecei a considerar a possibilidade de deixá-lo, e encontrar alguém que  realmente vivesse a vida em vez de ficar anotando cada sucesso obtido no trabalho. Não sei como consegui coragem para conversar com ele e dizer que eu já não suportava mais aquela situação. Ele levou tudo muito a sério - e o que mais me tocou foi saber que ainda me queria muito. Ele decidiu que devia se tornar mais espontâneo e relaxado e levou exatamente uma semana para descobrir como poderia atingir esse objetivo. O resultado foi hilariante. Uma tarde a campainha tocou e quando abri a porta lá estava ele, com uma rosa na mão e um sorriso divertido nos lábios. E enquanto me dizia “eu sou seu amante demoníaco”, foi me empurrando em direção ao sofá. Eu comecei a rir, ele pareceu um pouco magoado mas logo riu também. Nós nos amamos ali mesmo e acho que aquela foi a primeira vez em que realmente fizemos amor ao invés de puro sexo. Meu marido ainda é um pouco mecânico em sua espontaneidade - posso vê-lo tentando relaxar-se muitas horas antes - mas nosso relacionamento sexual se tornou muito mais excitante e criativo”.

A arte da sedução é uma arte galante que dá vida ao ato sexual. Chegar a um estado mental compatível com a necessária disponibilidade física requer "finesse" - habilidade de perceber o que o outro está sentindo e imaginação para acompanhar o parceiro no agradável jogo de elevar-se ao máximo naquela tensão mental que precede o ato sexual.

O flerte é outra área onde a imaginação tem suas compensações. Entre duas pessoas que não sabem se acabarão a noite juntas numa cama, o flerte pode ser uma maneira agradável de descobrir os atrativos recíprocos, ou de preparar um encontro sexual futuro, de maneira a torná-lo ainda mais excitante.

A afetividade que precede o ato sexual aflora com mais facilidade para um casal acostumado a fazer elogios inesperados e lisonjeadores. Um elogio e sua resposta aproximam as duas pessoas, tornando-as mais atentas uma em relação á outra. Certas afirmações ganham um sentido ainda mais profundo se forem sutilmente repetidas num momento posterior, durante o ato sexual. O flerte pode continuar, também, na cama. A arte do strip-tease ou o seu substituto, em que o parceiro vai tirando peça por peça da roupa do outro, levam o flerte até onde o ato sexual vai começar, ampliando e intensificando a relação.  

A antecipação desempenha papel importante para a criação de um entusiasmo extra com relação ao ato sexual. O flerte é exatamente uma área na qual a imaginação ajuda a aumentar a expectativa de prazer. Num outro extremo, uma comunicação tão abstrata quanto uma carta de amor também pode ajudar muito. Aparentemente desvinculada de qualquer encontro sexual específico, uma carta de amor faz o coração pulsar mais forte e cria condições para que o próximo encontro seja mais excitante e prazeroso.

No Japão medieval, a etiqueta exigia que um amante, ao deixar o leito e a casa da mulher amada, lhe escrevesse imediatamente uma carta de louvor e agradecimento. Ao receber a mensagem, a mulher saberia que ele tinha apreciado fazer amor com ela, admirado sua beleza e sua habilidade sexual. Ainda segundo a etiqueta, ela deveria mandar-lhe uma resposta. Essa troca de cartas poderia ser apenas uma cortesia, mas os fazia relembrar o prazer mútuo e preparava o coração para o próximo encontro.

A ideia de se escrever uma carta depois de fazer amor, antes de um encontro ou simplesmente para dizer que você se importa com seu parceiro, é uma das maneiras pelas quais a imaginação pode fazer reviver a chama de uma relação afetiva. Hoje em dia, as cartas foram substituídas por telefonemas ou e-mail que antecedem os encontros, permitindo que a cena do amor seja convenientemente preparada. Entre marido e mulher, essa antecipação geralmente se manifesta por meio de uma linguagem insinuante que demonstra uma certa predisposição para o amor. Também nesse caso a imaginação é importante e pode ajudar a superar obstáculos que impeçam a realização do encontro amoroso. Se os  horários dos cônjuges não coincidem, o amor é forçosamente colocado à margem. Com um pouco de imaginação, os dois parceiros saberão encontrar tempo para o amor.

Uma certa mulher, Joana, encontrou uma solução inesperada para o desgaste de seu relacionamento sexual com o marido, Fernando (nomes fictícios). “Ela vivia sempre esgotada” - conta ele - “correndo atrás das crianças o dia todo. À noite, dormia com os ouvidos atentos a todos os ruídos, para se certificar de que as crianças estavam bem. Eu trabalhava muito e fazia curso de pós-graduação. Algumas noites me deitava de madrugada e mesmo que Joana estivesse me esperando nua, dançando pelo quarto apenas com uma camisolinha transparente, eu lhe diria que ela estava me aborrecendo, de tão cansado que eu me sentia. Ela percebeu o que estava acontecendo e nos salvou. Foi uma ideia brilhante, como um raio de imaginação luminosa no escuro. Não tínhamos condições econômicas para tirar férias e viajar, fazendo turismo e reviver nosso amor. Dessa forma, ela sugeriu que, por duas semanas, trocássemos de casa com meus pais. Nós passamos a morar na casa deles e eles na nossa, com as crianças. Tudo voltou a ser como nas primeiras semanas do nosso casamento - regressamos à lua de mel. Acho que havíamos esquecido o quanto desejávamos um ao outro e como era bom fazer sexo quando tínhamos uma chance. Depois que as “férias” terminaram, nós não regredimos. Mas o sexo também depende de uma determinada organização de horário, embora isso possa parecer estranho numa atividade que deveria ser espontânea. Agora eu tento planejar meu trabalho e meus estudos, de tal maneira que não tomem o fim de semana, e cuidamos das crianças de modo a fazê-las entender que necessitamos de algum tempo para nós mesmos".

A imaginação pode oferecer muito mais do que sonhar com novas posições, explorar as várias maneiras de expressar o amor, aumentar as carícias ou criar um lindo cenário para o ato sexual. O auxiliar mais potente que a imaginação fornece aos amantes é a capacidade de se colocar um no lugar do outro. A atividade sexual efetiva é aquela que reflete o estado de espírito de ambos os parceiros, levando-os à satisfação total.

Um amante insensível muitas vezes insiste em fazer amor de uma maneira que, apesar de aparentemente estimulante, pode antagonizar os parceiros ao invés de uni-los, dependendo do humor de ambos naquele momento.

Uma pessoa que apenas se concentra em si mesma durante o ato sexual tende a ficar passiva demais enquanto a outra procura o clímax ou, pelo contrário, a se excitar excessivamente quando a outra está buscando, um momento de paz no amor. A sensibilidade permite a um amante detectar o estado de espírito do outro, e a imaginação proporciona um relacionamento baseado no humor de ambos, criando uma ponte sobre o abismo que às vezes existe entre suas emoções.

Um outro casal, Sérgio e Carla (nomes fictícios), por exemplo, tem um bom relacionamento. O marido parece adivinhar o que se passa com sua mulher antes que ela lhe diga qualquer coisa. “Quando estou deprimida, Sérgio sabe exatamente o que fazer para renovar o meu ânimo. Uma noite por exemplo, ele descobriu que eu estava cansada das responsabilidades de um ser adulto e precisava desabafar um pouco. Ele então me estimulou a brincar inocentemente com nossos corpos, como as crianças, mas tirando deles todo o prazer, como os adultos. Em outra ocasião, eu estava deitada, aborrecida com um problema qualquer e pensando que nunca mais teria vontade de fazer amor. Sérgio deitou-se ao meu lado e começou a conversar comigo, tocando-me delicadamente, até sentir-me aquecida por dentro, desejando-o de um modo calmo".

A educação erótica depende de que cada parceiro sinta quando o outro está aberto a uma nova forma de fazer amor - e a imaginação sugere qual será essa forma. O conhecimento da personalidade erótica do parceiro permite um fácil ajustamento às necessidades reais que nem sempre se expressam abertamente. Um abraço depois do ato sexual torna-se uma recompensa natural para amos os parceiros, quando percebem que necessitam um do outro, tanto física quanto espiritualmente.

E na medida em que a imaginação floresce no relacionamento sexual, torna-se mais fácil também para o casal detectar as necessidades de ambos em outras áreas de seu relacionamento. No amplo contexto de sua relação como um todo, os parceiros enriquecem sua vida em comum, experimentando tudo juntos - e considerando sempre o ponto de vista do outro. Uma concentração individualista que impeça a participação das ideias do parceiro, elimina todas as recompensas que surgem quando duas pessoas abrem suas mentes uma para a outra. E a força que isso dá à sua relação global revigora sua relação sexual. Duas pessoas que sabem encontrar a variedade na vida do dia-a-dia - auxiliando-se mutuamente a evitar o conforto da preguiça, pensando em como podem se ajudar e quais são seus objetivos reais - constroem para si mesmas uma vida altamente gratificante e formas sempre renovadas de fazer amor.