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 TEMA: 1932, YES, O BRASIL TEM HERÓIS 

Antonio de Andrade *

 

É autorizado o uso do texto e capa do livro, por quaisquer meios, com a indicação do site.

 

          O feriado paulista do dia 9 de julho é uma data na qual é relembrada a Revolução Constitucionalista de 1932 feita contra o Governo "Provisório" de Getulio Vargas. Os paulistas lutaram com o objetivo de trazer a normalidade constitucional ao país. Iniciada a 9 de julho, a Revolução foi encerrada 3 meses depois, a 2 de outubro de 1932. O 9 de julho é um dia para cultuar a memória dos 135 mil soldados e voluntários paulistas (e de outros Estados) que com bravura lutaram nas trincheiras do Vale do Paraíba e outras fronteiras de São Paulo, nos vales, nos morros, nos túneis e em especial, os 830 combatentes que tombaram mortalmente, dando a sua vida e o seu sangue, pelos ideais democráticos e por um Brasil melhor.

          Quando a História do Brasil é examinada com atenção, descobre-se que em todos os momentos históricos existiram homens e mulheres que saíram da rotina da vida que levavam e despertaram para algo maior, agindo para o bem da coletividade e do país onde viviam, chegando muitos a darem a própria vida pelos ideais que os levou à luta.

        Homens e mulheres que conseguiram superar os medos da dor, da perda, do fracasso, da doença, do cansaço, do cárcere, do desterro, dos tormentos e torturas de seus inimigos. Superaram até o medo da morte e colocaram à prova as suas características pessoais, em especial o seu caráter, a coragem e o amor pelo Brasil e enfrentaram com determinação os acontecimentos históricos que viveram. Parece que tinham eliminado de seus vocabulários a palavra impossível e assim sentiram-se fortes o suficiente para perseguirem os ideais e os sonhos que os levavam à luta.

        Pouco se importaram com o sofrimento que, certamente, a luta que encetaram lhes traria, pois tinham fé num futuro melhor para o Brasil. Vislumbraram um país no porvir, um país livre, democrático, uma nação brasileira. E esse destino de cada um elevou-os como homens e como mulheres especiais na História do Brasil.

          Essas pessoas são os heróis brasileiros. A História registrou muitos deles como heróis ou heroínas, pelas suas ações consideradas heróicas pelos historiadores que registraram os fatos ou analisaram posteriormente esses fatos históricos. Mas, com certeza, na história da formação e desenvolvimento do Brasil como nação, é lógico concluir que muitos, mas muitos cidadãos anônimos contribuíram com suas ações e suas vidas, para que o Brasil chegasse ao que é hoje, um grande país, uma nação verde-amarela. Essas pessoas, anônimas ou não, em sua maioria, não são cultuadas pela História como heróis. E como seria benéfico para despertar a cidadania do povo se houvesse um dia para cultuar os heróis e heroinas brasileiros.

          Em um feriado paulista como o dia 9 de julho, ao cultuar a memória dos que lutaram nesse que foi o maior conflito militar e movimento revolucionário do Brasil no século 20, fica-se com um sentimento cívico de vazio ao refletir que o Brasil não tem o costume de cultuar os seus heróis, com raras exceções.

         E junto a esse vazio encontra-se outro sentimento de alegria ao se constatar um fato marcante: muitos dos combatentes de 1932, foram à luta por ideais democráticos, sem exigir nada em troca. Parece que estavam dando uma resposta àquela famosa frase do presidente americano John Kennedy quando ele disse, anos depois de 32: "Não pergunte o que o seu país pode fazer por você, mas o que você está fazendo pelo seu país."

             Os bravos paulistas de 1932, homens e mulheres, 135 mil soldados ou voluntários, fizeram a sua parte pelo Brasil naquela época. Cada um que lutou, independente se nas trincheiras, nos combates nos túneis, nos morros e nos vales, ou nas ações de planejamento estratégico e logística militar, ou nas ações de apoio e retaguarda, como as mulheres que preparavam a alimentação ou atendiam aos feridos, todos, sem exceção, foram heróis, pelas suas ações de idealismo, de coragem e de luta por um Brasil melhor. Muitos foram os heróis, mas na impossibilidade de se homenagear a todos, em nome de todos eles, são lembrados alguns deles. Primeiramente Paulo Virgínio. Morador do sertão de Cunha, foi aprisionado por tropa de fuzileiros navais que se dirigiam para atacar a cidade. Interrogado sobre a localização das tropas paulistas, mesmo sob tortura ele se negou a falar. E antes de ser fuzilado, depois de ser obrigado a cavar a própria sepultura, ele gritou: - "São Paulo vence!" Paulo Virgínio perdeu a vida mas entrou na História como o herói de Cunha e da Revolução de 32. Em sua memória e de seu heroísmo, há um monumento na entrada da cidade de Cunha, na estrada para Paraty e essa rodovia que liga as cidades de Guaratinguetá-Cunha-Paraty recebeu o seu nome.

            Outros nomes de heróis da Revolução de 1932, são os dos primeiros mártires que tombaram mortalmente com os primeiros tiros disparados, dias antes do 9 de julho. No dia 23 de maio, o povo paulista protestava contra a visita do representante de Getulio à cidade, o ministro Osvaldo Aranha, e entrou em confronto na esquina da Rua Barão de Itapetininga com a praça da República, com os partidários de Getulio Vargas, os membros da Legião Revolucionária e do Partido Popular Paulista. Nesse confronto, com muitos tiros de fuzil, de submetralhadora e revólveres, são atingidos mortalmente, Euclides Bueno MIRAGAIA, Antonio Américo de CAMARGO Andrade, DRÁUSIO Marcondes de Souza e Mário MARTINS de Almeida, este último gravemente ferido, morreu ao chegar ao hospital. As iniciais dos nomes destes quatro primeiros mártires formaram a sigla MMDC (Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo), a organização que cuidou, durante a Revolução, da direção geral do abastecimento, da intendência, das finanças, da engenharia, da saúde, do correio militar e da mobilização de outros serviços e, após o término da Revolução, foi adotada pela Sociedade Veteranos de 1932-M.M.D.C.

        Nos registros históricos constam os nomes de Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo como os quatro primeiros que tombaram mortalmente feridos no dia 23 de maio de 1932. Um pesquisador, Hely Felisberto Carneiro (médico, nascido em 1932, residente em Sorocaba, SP), em anos de pesquisa descobriu que havia mais um herói que tinha sido mortalmente ferido naquele dia de 23 de maio. Conforme suas informações, um mineiro de Muzambinho, Orlando de ALVARENGA, foi também gravemente ferido no dia 23 de maio, com um tiro de fuzil na coluna lombar que esfacelou sua medula. Socorrido, sofreu 81 dias, falecendo no dia 12 de agosto. O pesquisador agiu para consertar os registros históricos sobre 1932 e conseguiu que em setembro de 1993 a diretoria da Sociedade Veteranos de 1932 - M.M.D.C. reconhecesse a falha dos registros históricos. Assim, baseado em um estudo feito pelo Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba, foi criado o "Colar da Cruz do Alvarenga e dos Heróis Anônimos".

        

 

          Como homenagem póstuma ao herói Orlando de Alvarenga, em 28 de abril de 2003 o Prefeito da cidade de Sorocaba, SP, sancionou a Lei nº 6814 designando a Rua nº 1 do Jardim Itapoã como "Orlando de Alvarenga" e em 13 de janeiro de 2004, o Governador do Estado de S.Paulo, depois que o pesquisador Hely Felisberto fez o pedido a ele, promulgou a Lei nº 11.658 designando o dia 23 de Maio como "Dia dos Heróis MMDCA" e por Decreto oficializou o "Colar da Cruz do Alvarenga e dos Heróis Anônimos".     

         Visando homenagear também os heróis de 32 e outras pessoas que mantêm a memória de 32, a Câmara Municipal de Sorocaba, SP criou pela Lei 7766 a Semana da Memória da Revolução Constitucionalista de 1932. Durante uma semana são feitas palestras e outros eventos e 32 personalidades recebem a MEDALHA COMBATENTES DE 32. Tel de contato 15-30119263.

         Esses são apenas alguns nomes de heróis não somente paulistas, mas heróis brasileiros, pois deram as suas vidas pelos ideais de um Brasil melhor. E a lembrança de seus nomes e de tantos outros precisa repercutir através dos tempos por todo o país, não ficando esquecidos para os brasileiros da atualidade os feitos daqueles que fizeram tudo para que houvesse, nos tempos atuais, uma nação verde-amarela melhor. As ações e vidas desses e de tantos outros brasileiros do passado contribuíram para uma nação melhor no presente. Os nomes e os restos mortais dos mártires e dos heróis de 1932 estão no Monumento Mausoléu ao Soldado Constitucionalista, no Parque do Ibirapuera na capital paulista, com seu obelisco de 77 metros. Assim, está perpetuada para outras gerações a história de 1932 e de pessoas que derramaram o próprio sangue em defesa de ideias e de ideais, de princípios em prol de um Brasil melhor. 

    E os jovens, ao constatarem os fatos de 1932, certamente não irão derramar sangue, como muitos jovens derramaram em 1932, mas lágrimas, pois irão sentir-se orgulhosos dos bravos e heroicos brasileiros. E poderão então dizer com orgulho, numa linguagem globalizada de hoje: - Yes, o Brasil tem heróis!


 

      * O escritor Antonio de Andrade, de Lorena, SP, escreveu o livro "1932-Os deuses estavam com sede", um romance histórico ambientado na Revolução de 1932. Seus livros e artigos são encontrados unicamente pelo site www.editora-opcao.com.br 

Veja no site, em especial, outros artigos sobre 1932:

."1932 -Viagem no tempo para entender 1932"

."1932 e o Brasil de hoje:  as Revoluções necessárias"

. "1932 e Hoje: a ganância pelo poder"

. "1932 - O desespero hoje das viúvas de ex-combatentes"

. "1932 visto por um menino de 10 anos"

O autor recebeu em 9 de julho de 1999, da Prefeitura de Cunha, SP, um diploma e medalha "Paulo Virgínio - Herói Constitucionalista" pelo "apoio, contribuição e ajuda á Memória da Revolução de 1932".