MENSAGENS EDUCATIVAS POSITIVAS
TEMA: IMIGRANTE OU MIGRANTE? E CIDADES "EXPORTAM" MENDIGOS Duas matérias interessantes sobre os mendigos que perambulam por cidades do Vale do Paraíba, matérias da época em que exerci a função de Secretário do Desenvolvimento Social em Lorena, SP, na gestão da administração municipal de 1993-1996. Antonio de Andrade Lorena, SP. Contato pelo e-mail opcao@editora-opcao.com.br
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Imigrantes ou Migrantes?
Com relação ao trabalho planejado e realizado com pessoas que eram encontradas em mendicância no município de Lorena, é interessante e curiosa a situação apresentada a seguir. Em 29 de maio de 1995 um vereador apresentou na Câmara Municipal de Lorena o seguinte Requerimento: Requerimento Nº 150/95 Senhor Presidente, Requeiro à Mesa, ouvido o Douto Plenário, na forma Regimental, se oficie ao Chefe do Executivo que através da Secretaria do Desenvolvimento Social, estabeleça uma política de atendimento aos IMIGRANTES, desocupados que ocupam as nossas praças públicas, e calçadas da área central da cidade. Com base no parágrafo 2º do Art. 9º da Lei Orgânica Municipal, fico no aguardo de resposta dessa propositura. JUSTIFICATIVA O assunto que exponho é de cunho social, já abordado por mim em outras proposituras. Hoje o número de desocupados e pedintes, IMIGRANTES, vem aumentando em Lorena. Em 27 de maio p.p., na praça do Rosário, ao lado do busto do Dr. Gama Rodrigues, IMIGRANTES no horário das 12:00 horas, lavavam roupas em uma torneira ali existente e as estendiam nos canteiros do jardim da Praça. O fato foi comentado naquele momento por esse edil, com uma irmã de caridade, da cidade de Americana, com uma Assistente Social do SUS que por ali passavam. Entre os IMIGRANTES havia um aidético de uma cidade do Paraná, passando por nossa cidade. Respeitando o Direito do Homem de ir e vir, porém uma Política de orientação e encaminhamento é preciso. Por essas razões, o social é fundamental nesse momento de transição de um século para outro. Sala das sessões, 29de maio de 1995 Vereador ... Aprovado por unanimidade de votos.
Este requerimento dos vereadores foi enviado ao Executivo e, este, através da Procuradoria do Município, solicitou ao Secretário do Desenvolvimento Social, a devida resposta, conforme determina a Lei. Como a lei determina, a resposta tem que ser feita baseado no que é solicitado no Requerimento e não naquilo que se tenta entender que o vereador queria perguntar. Por isso, a resposta do Secretário foi a seguinte: Memo Nº 76/95 - 20 de junho de 1995 Para: Procuradoria do Município Do Secretário do Desenvolvimento Social Em atendimento à solicitação para que esta Secretaria informasse sobre o solicitado no Requerimento Nº 150/95 da Câmara Municipal, vimos informar a essa Procuradoria o que se segue, para que informe pelos trâmites legais aos vereadores da Câmara Municipal: 1. No Requerimento, o vereador autor do requerimento, solicita que “A Secretaria do Desenvolvimento Social estabeleça uma Política de Atendimento aos IMIGRANTES desocupados que ocupam as nossas praças públicas e calçadas da área central da cidade”. E no mesmo Requerimento, na Justificativa, afirma que “Hoje o número de desocupados, IMIGRANTES, vem aumentando em Lorena”. Com relação ao solicitado pelo vereador e aprovado por unanimidade por todos os vereadores, informamos a essa Procuradoria que esta Secretaria não tem uma Política de Atendimento AOS IMIGRANTES (conforme o Dicionário Aurélio, página 744: “IMIGRANTE: PESSOA QUE IMIGRA. IMIGRAR: ENTRAR (NUM PAÍS ESTRANHO) PARA VIVER NELE”) por entendermos que a Política de Atendimento a pessoas ORIUNDAS DE OUTROS PAÍSES deva ser feita por seus Consulados ou Embaixadas de seus países de origem. Esta Secretaria não tem, também, conhecimento de que há um aumento em Lorena de IMIGRANTES (PESSOAS ORIUNDAS DE OUTROS PAÍSES), “desocupados e pedintes”. Não se vê pelas praças, alemães, japoneses, italianos, portugueses, ou pessoas de outras nacionalidades, desocupados e pedintes em Lorena... 2. Caso o vereador autor do requerimento estivesse pensando em referir-se a MIGRANTES (conforme o Dicionário Aurélio, página 923: “MIGRANTE: PESSOA QUE MIGRA. MIGRAR: MUDAR PERIODICAMENTE OU PASSAR DE UMA REGIÃO PARA OUTRA...”), vimos informar a essa Procuradoria que a Secretaria do Desenvolvimento Social tem uma parceria com o Abrigo Maria de Nazareth/Albergue Noturno Bezerra de Menezes, sito à Rua Leovigildo Areco nº 278, bairro S.Roque. Nessa entidade há 10 (dez) funcionários da Secretaria cedidos a ela, para um atendimento 24 horas, todos os dias do mês. No Albergue há capacidade para atender 20 albergados por noite, sendo 10 homens e 10 mulheres. Caso haja necessidade há condições de atender mais, pois o Albergue tem colchões sobressalentes. Para essa Procuradoria poder informar ao vereador autor do requerimento, vereador que nunca esteve nesta Secretaria para se informar sobre o que é feito ou os Programas existentes que são desenvolvidos no município na área social, apresentamos os números de atendimentos realizados para os MIGRANTES que passam por Lorena.
A Secretaria do Desenvolvimento Social também fornece passes intermunicipais aos migrantes. Em 1993 foram 2.062, em 1994 foram 1.760. Em complemento a essas informações esclarecemos: Esta Secretaria possui um PROGRAMA DE ORIENTAÇÃO, APOIO E PROMOÇÃO ÀS FAMÍLIAS CARENTES com atendimento em cestas básicas, medicamentos ou outras necessidades. Possui também o Programa-Campanha Não dê Esmolas que objetiva tirar das ruas as pessoas que nelas pedem esmolas e dar a elas um atendimento que engloba: a. ESTUDO DO CASO pelas Assistentes Sociais. b. VISITA À FAMÍLIA para ver a situação “in loco”, se é realmente carente (renda familiar, a situação social, higiene da casa, etc). c. Realização de um PLANO DE AÇÃO com a família (o que ela precisa para DEIXAR DE SER CARENTE?): arranjar um trabalho, fazer horta doméstica, participar dos cursos geradores de renda, por os filhos na escola e os maiores em cursos geradores de renda, etc. d. AÇÃO EMERGENCIAL: POR 1 A 3 MESES (podendo estender-se por mais tempo, se for necessário): que ajuda a família precisa? (cesta básica, medicamento, encaminhamento ao Fórum, à Delegacia da Mulher, etc?) e. ACOMPANHAMENTO DO CASO: a família esta FAZENDO A SUA PARTE para sair da carência? Que orientação, apoio ou outra ação está precisando e até quando? (PRAZO para encerrar o caso). . Com relação às PESSOAS ALCOOLIZADAS QUE PERAMBULAM PELAS RUAS: a. É um dos problemas existentes em TODAS as cidades, já que o álcool é uma das drogas PERMITIDAS pela sociedade, veiculada na TV, rádios, jornais e revistas, com campanhas publicitárias caríssimas, sendo uma das drogas mais consumidas pela população mundial. Lorena não é diferente disso. b. Alcoolismo é uma DOENÇA, e como doença é TRATADA, na área pública municipal, pela Secretaria da Saúde através do SERVIÇO DE SAÚDE MENTAL, que funciona no prédio AO LADO DA CÂMARA MUNICIPAL. Para tratar alcoólatras em nosso município, a Prefeitura Municipal: Fez um CONVÊNIO com a entidade IRMÃOS ALTINO, de Guaratinguetá, convênio este acredito, ser de conhecimento do vereador autor do requerimento, por ter sido aprovado por aquela Casa de Leis. Funciona nos Irmãos Altino um Pronto-Socorro Psiquiátrico, para casos de alcoólatras agressivos, em especial, e também para outros tipos. O paciente fica em tratamento por 72 horas até passar a crise, recebendo alta em seguida. O tratamento poderá ser feito: . a. em instituição psiquiátrica, nos casos em que o paciente necessite ficar internado. b. tratamento ambulatorial no Serviço de Saúde Mental, com acompanhamento psiquiátrico. c. Ou também, através da participação nos Grupos de AA-Alcoólicos Anônimos. Em Lorena, os Grupos de AA realizam reuniões no SUS Central às 4º feiras, 19 horas; sexta-feira às 19 horas e domingo às 9 horas. Na APROVIN -Associação Promocional da Vila Nunes, sito à Rua 17, às terças-feiras às 19 horas. Existem ainda outros grupos em outros bairros. . Importante é o fato de que não se pode obrigar ninguém a se tratar. Não existe amparo legal que permita “pegar” um alcoólatra ou um pedinte que esteja perambulando pelas ruas ou deitado nas praças e obrigá-lo a um tratamento ou obrigá-lo a ir para o Albergue. Para ser tratado, um familiar da pessoa deverá levá-lo ao Serviço de Saúde Mental para uma consulta psiquiátrica, onde a pessoa será avaliada em suas condições. Se for constatado a necessidade de internação, esse Serviço providenciará a devida internação, com a concordância do familiar da pessoa. Caso seja possível o tratamento ambulatorial, esse Serviço estabelecerá o tratamento. Em todos os casos, respeitando-se o direito inalienável que cada ser humano tem de querer ou não ser tratado. Acreditamos ter fornecido as informações necessárias a essa Procuradoria para responder ao solicitado no Requerimento da Câmara Municipal Nº 150/95. Antonio de Andrade Secretário do Desenvolvimento Social Prefeitura Municipal de Lorena Gestão 1993-1996 ...................................................................
REPORTAGEM: CIDADES EXPORTAM MENDIGOS
Devido ao fato de o município de Lorena, na época da administração municipal da gestão 1993-1996, não tinha condições de fixar os migrantes que passavam por seu território, uma das ações feitas com os migrantes, pela Secretaria do Desenvolvimento Social da Prefeitura, era o fornecimento de passes intermunicipais para que continuassem suas viagens, ficando no município apenas alguns dias, sendo atendidos com alimentação e pernoite no Albergue Noturno. Essa situação de fornecimento de passes ocorria na maioria das cidades do Vale do Paraíba, um “corredor de cidades” entre o Rio de Janeiro e São Paulo, levando a imprensa, naquela época, a fazer reportagens, como as publicadas nos jornais do vale, a seguir:
PREFEITURAS FAZEM "EXPORTAÇÃO" DE MENDIGOS
Seis Prefeituras do Vale do Paraíba estão “exportando” mendigos para outras cidades. Os mendigos são levados em carros alugados pelas Prefeituras. As Prefeituras também fornecem passagens de ônibus para os mendigos. No último dia 14, a Polícia Militar de Lorena (100 km de São José) registrou um Boletim de Ocorrência sobre a chegada de de uma leva 12 migrantes na cidade. Os migrantes encontrados em Lorena são de Vitória da Conquista (BA) e foram levados à noite, por um caminhão alugado pela Prefeitura de Cruzeiro (120 km de São José). Esses migrantes são conhecidos como “trecheiros”. Eles chegam à região vindos do Nordeste e norte de Minas à procura de emprego. Segundo a assessora de Promoção Social de Cruzeiro, Selma Ezequiel Teixeira, 49, o aluguel do caminhão foi necessário porque a Empresa Pássaro Marron não quis transportá-los. “Eles fizeram tanta bagunça na rodoviária que o motorista não permitiu o embarque e, como estamos sem albergue, tivemos que alugar o caminhão”. Selma disse que os trecheiros queriam ir para São Paulo, mas não havia dinheiro para as passagens. “Eles insistiram, então em ir para Lorena”. O Secretário do Desenvolvimento Social de Lorena, Antonio de Andrade, 50, disse que os trecheiros recebem passagens para continuarem suas viagens, já que o município não têm estrutura para fixá-los na cidade. O Vale do Paraíba funciona como um corredor de migração. Segundo dados levantados junto às Prefeituras, cerca de 5.000 migrantes passaram pelo Vale do Paraíba em 94. As cidades mais procuradas são as de concentração industrial, como São José dos Campos e Taubaté (40 km de São José). E a Prefeitura de Aparecida foi acusada pela cidade de Lorena de fazer uma “limpeza”de mendigos no dia anterior da Festa da Padroeira, “jogando-os” à noite em Lorena, conforme ocorreu na noite de 11 de outubro quando ônibus de Aparecida "despejavam" mendigos num bairro de Lorena ao lado da Via Dutra, durante a madrugada do dia 12, ônibus escoltados por viaturas policiais de Aparecida. A polícia de Lorena acionou as autoridades municipais, a Prefeita Lu Fradique, juntamente com o Secretário do Desenvolvimento Social, Antonio de Andrade que compareceram ao local. O "despejo" de mendigos que estava sendo realizado foi interrompido, fazendo os ônibus voltarem à cidade de Aparecida, desta vez escoltados por viaturas da polícia de Lorena. A Prefeitura de Lorena, oficializou protestos junto à Arquidiocese de Aparecida e a Prefeitura de Aparecida. ................
Outra matéria publicada em 10 de março de 1995 num jornal do Vale apresentou outros dados relacionados:
CIDADES DISCUTEM AÇÃO INTEGRADA PARA MIGRANTES
As Prefeituras da região do Vale do Paraíba estão discutindo uma forma integrada de atendimento aos trecheiros que aparecem no Vale, pedindo esmolas. No final do ano passado, 14 municípios da região participaram do Encontro do Fluxo Migratório, em São Sebastião (115 km de São José), para estabelecer um procedimento único nestes casos. No Estado de São Paulo, existem cerca de 40 cidades dentro do chamado “corredor migratório”, entre elas Campinas e São José dos Campos. O corredor migratório abrange as rotas preferidas pelos migrantes que vêm, principalmente, dos estados do Nordeste e do norte de Minas Gerais. O estudo definindo ações integradas com relação aos trecheiros não tem data definida para ficar pronto. Hoje muitas Prefeituras consideram o fornecimento de passagens para as cidades mais próximas como o primeiro passo desta ação integrada. Já o Secretário do Bem-Estar Social de Jacareí, Hélcio Nogueira Paranaguá, 51, considera que o fornecimento indiscriminado de passagens favorece “o turismo de trecheiros”. Paranaguá afirmou que a Prefeitura de Jacareí só fornece passagens para os locais de origem dos pedintes que aparecem na cidade. Segundo ele, os migrantes são recolhidos pelas rondas diárias e ficam três dias no Albergue do município, para a verificação de sua origem e se eles têm antecedentes criminais. As rondas das Prefeituras estão fazendo diminuir o número de trecheiros entre os pedintes das cidades.
O levantamento realizado pela Secretaria do Desenvolvimento Social entre os meses de agosto a outubro de 1994, para ser apresentado nessa reunião corrida em São Sebastião mostrou os seguintes dados de migrantes que passaram pelo município de Lorena, e ficaram pelo menos uma noite no Albergue Noturno:
LEVANTAMENTO DO FLUXO MIGRATÓRIO (Realizado pela equipe do Albergue Noturno Bezerra de Menezes, de Lorena,SP, abrangendo o período de agosto a outubro de 1994.) 1. IDENTIFICAÇÃO: 1.1. FAIXA ETÁRIA:
1.2. NATURALIDADE/ORIGEM:
1.3. ESTADO CIVIL:
1.4. ESCOLARIDADE:
1.5. PROFISSÃO:
2. CAUSA DA MIGRAÇÃO:
3. COMO CHEGOU AO MUNICÍPIO:
4. PRETENSÕES FUTURAS NO MUNICÍPIO:
5. PRETENSÕES FUTURAS FORA DO MUNICÍPIO:
As conclusões principais do Encontro sobre Fluxo Migratório ocorrido em São Sebastião foram: a. Alguns dados sobre os migrantes: . insatisfação com o local de origem . comprometimento mental . exclusão dos direitos da cidadania . marginalização . estilo de vida . são bem informados sobre as cidades. b. Variáveis: . insatisfação . economia do município . ausência de reforma agrária . desagregação familiar . desemprego/ fome . falta de moradia . saúde mental. c. Formas atuais de intervenção: . prestação de serviço sem a concepção do direito de cidadania. . repressão sutil ou explícita (fornecimento de passagens, retirada obrigatória do local, enquadramento nas normas das instituições de abrigo, perseguição policial). . trabalhos regionalizados paralelos. . assistência básica (saúde, alimentação, abrigo, orientação, e encaminhamentos diversos). d. Novas propostas de intervenção: . investir em pesquisa sobre a população migrante a nível regional. . Traçar uma política para a população migrante. . Intercâmbio entre os municípios, visando um trabalho integrado. . Fiscalizar caminhões que vêm de outras localidades transportando migrantes . Cada município assumir a sua realidade. . Traçar uma linha única de atuação em relação ao migrante, na região do Vale do Paraíba e Litoral Norte. . Avaliação trimestral entre os municípios. . Ampliar o debate ao nível de sociedade civil e poder público. . Mapeamento regional da população itinerante. . Envolvimento das Universidades locais no debate. . Definir as competências entre os poderes para intervenção junto a essa população. . Continuidade dos Fóruns de Discussão sobre Fluxo Migratório. . Conhecimento das experiências não repressivas de intervenção (caso da baixada santista). . Projetos alternativos de geração de renda
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