Monteiro
Lobato previu num romance publicado em 1926, que os Estados Unidos iriam
eleger um presidente negro.
Seu romance O
presidente Negro ou O Choque das raças, profetizava um acontecimento
impensável num país onde o preconceito racial e a aceitação do negro na
sociedade eram inconcebíveis para
a população branca. Talvez por isso mesmo, Monteiro Lobato tenha dado ao livro
um subtítulo intrigante: "Romance
Americano em 2.228", localizando os acontecimentos da história que criou numa
época
bem distante. No entanto, em 5 de Novembro de 2008, o mundo assistiu à
eleição de Barack Hussein
Obama, para ser Presidente dos Estados Unidos. Barack Obama nasceu
no Havaí em agosto de 1961, de pai africano e negro e mãe americana e branca.
O livro de Monteiro Lobato, O Presidente
Negro, pretendia ser uma visão do futuro,
já que a história do livro se passa no ano de 2.228. O foco principal do livro
é a competição entre um candidato negro, uma mulher e um candidato branco pela
presidência dos Estados Unidos. Lobato enfoca a eleição do 88º Presidente dos
Estados Unidos que seria disputada pelo negro Jim Roy, por Evelyn Astor, uma
ferrenha feminista, e pelo presidente Kerlog, candidato à reeleição.
No romance, a eleição em que um negro seria eleito
presidente dos Estados Unidos, aconteceria em 2.228, mas essa realidade
aconteceu em 2008, com situações semelhantes à prevista por Monteiro Lobato em
1926, pois desde o início da campanha presidencial, os concorrentes ao cargo
eram um negro (Obama), uma mulher (Hillary Clinton) e um branco conservador (McCain).
O romance escrito por Monteiro Lobato, O Presidente Negro,
é também uma espécie de ficção científica: Benson, outro personagem do livro,
é um cientista que cria o "porviroscópio", uma máquina capaz de prever os
acontecimentos futuros como: os jornais não mais seriam lidos nem escritos em
papel, mas mostrados em monitores luminosos domésticos (TV? Tela de
computador?); um tipo de radiotransmissão de dados possibilitaria ao ser
humano cumprir suas tarefas na própria casa e sem a necessidade de se deslocar
para o trabalho (internet?); a roda se transformaria em peça de museu, e
outras mudanças aconteceriam. Airton, também personagem da história, torna-se
confidente do cientista e, através dessa máquina do tempo (o porviroscópio),
assiste, como numa tela de cinema, a acontecimentos que ocorreriam na América
do Norte, anos depois.
No romance escrito por Monteiro Lobato, os brancos
norte-americanos se dividem na intenção de votar em um homem ou numa mulher, e
assim o negro Jim Roy vence as eleições, apesar de todo o preconceito e
racismo existente no país. Algo de tétrico, porém, acontece depois, na
história criada por Monteiro Lobato: confirmada a vitória de Jim Roy, os
brancos encontram uma forma disfarçada e mesquinha de esterilizar os negros,
inventando um método que seria apresentado como um simples alisador de
carapinhas, mas cujo objetivo seria dizimá-los como Hitler tentou fazer com os
judeus. Buscavam a aniquilação da raça negra através da esterilização em
massa.
Monteiro Lobato era cético, nacionalista, acusado de
preconceituoso e não via os norte-americanos com bons olhos. Seus livros e
atitudes ainda hoje provocam debates e polêmicas. Lobato viajou para os
Estados Unidos e lá enfrentou sérios problemas. Seu romance, que narra a
vitória de um candidato negro ao mais alto cargo da nação, trouxe-lhe grandes
desgostos e nunca foi aceito no país. Foi um grande defensor de uma política
que entregasse à iniciativa privada a extração do petróleo em solo brasileiro.
Acabou sendo preso e morreu pobre e doente.
Os tempos hoje são outros e a vitória de Barack Obama para
Presidente dos Estados Unidos mostra que o mundo está mudando para melhor.
É interessante conhecer
algumas idéias de Barack Obama, eleito novo
presidente dos Estados Unidos em 5 de novembro de 2008.
Em julho de 2008,
Barack Obama falou em Berlim, Alemanha, para uma multidão calculada pelas
autoridades policiais em duzentas mil pessoas. Ele abriu o evento sem
precedentes esclarecendo que estava ali na condição de “cidadão do mundo” –
uma expressão que contém em si mesma a idéia da cidadania planetária e de um
mundo sem fronteiras. Ali estava um cidadão em campanha eleitoral nos Estados
Unidos, falando em manifestação de rua em país europeu. Em seguida, Obama
formulou a sua proposta de cooperação entre todos os povos. Referindo-se
indiretamente à derrubada democrática do Muro de Berlim, em 1989, ele disse:
“A solidariedade e a cooperação entre as nações não é uma escolha. É o único
caminho, o único caminho, para proteger a nossa segurança comum e fazer
avançar a nossa humanidade comum. É por isso que o maior de todos os perigos
seria permitir que novos muros nos dividam um dos outros. Os muros entre os
velhos aliados dos dois lados do Atlântico não podem ficar de pé. Os muros
entre os países que têm muito e os países que têm muito pouco não podem ficar
de pé. Os muros entre raças e tribos; nativos e imigrantes; cristãos e
muçulmanos e judeus, não podem ficar em pé. Estes são, agora, os muros que nós
devemos derrubar. Nós sabemos que eles caíram antes. Depois de séculos de
conflito, os povos da Europa formaram uma união promissora e próspera.”
E
prosseguiu:
“Aqui, na base de uma coluna construída para marcar a vitória na guerra, nós
nos encontramos no centro de uma Europa em paz. Muros caíram não só em Berlim,
mas eles vieram abaixo em Belfast, onde os protestantes e os católicos
descobriram uma maneira de viver lado a lado; nos Balcãs, onde a nossa aliança
Atlântica terminou as guerras e apresentou criminosos de guerra à justiça; e
na África do Sul, onde a luta de um povo corajoso derrotou o apartheid. Assim,
a história nos faz lembrar do fato de que os muros podem ser derrubados. Mas a
tarefa nunca é fácil. A verdadeira cooperação e o verdadeiro progresso
requerem um trabalho constante e um sacrifício contínuo. Eles exigem que se
compartilhe as responsabilidades do desenvolvimento e da diplomacia; do
progresso e da paz. Eles requerem aliados que escutam uns aos outros, que
aprendem uns dos outros, e, sobretudo, que confiam uns nos outros.”
(fonte:
“Change We Can Believe In - Barack Obama’s Plan to Renew America’s Promise”,
livro com o programa de governo e sete discursos de Obama, publicado por Three
Rivers Press, New York, 2008, 274 pp., ver pp. 265-266).
Barack
Obama acrescentou:
“Este é o momento em que devemos renovar a meta de um mundo sem armas
nucleares. As duas superpotências que olhavam uma para a outra através do muro
desta cidade estiveram demasiado perto, por um tempo demasiado longo, de
destruir tudo o que nós construímos e tudo o que amamos. Com o final daquele
muro, nós não necessitamos ficar parados sem fazer nada, olhando para a
proliferação da energia atômica mortal. (...) Este é o momento de começar a
trabalhar em busca da paz de um mundo livre de armas nucleares.”
Depois ele falou vigorosamente da necessidade de paz no Oriente Médio, e
abordou a questão da ecologia planetária. Obama disse:
“Este é o momento em que devemos unir-nos para salvar este planeta. Devemos
tomar a decisão de que não deixaremos para nossos filhos um mundo em que os
oceanos se elevam, e a fome se espalha, e tempestades terríveis devastam as
nossas terras. Devemos decidir que todas as nações – inclusive a minha própria
– agirão com a mesma seriedade de propósito que a sua nação [a Alemanha], e
reduzirão o carbono que colocam na atmosfera. Este é o momento em que devemos
devolver às nossas crianças o futuro que pertence a elas. Este é o momento
para agirmos em unidade.” (Fonte:
“Change We Can Believe In”, obra citada, p. 267 a 269).
Obama parece saber o que deve fazer. E não pode ser acusado de possuir metas
demasiado pequenas. Filho de um queniano, e nascido Havaí, ele concluiu o seu
principal discurso fora dos Estados Unidos com estas palavras:
“Povo de Berlim – povo do mundo – este é o nosso momento. Esta é a nossa vez.
Eu sei que meu país não tem se aperfeiçoado. (...) Nós temos a nossa quota de
erros. (...) Mas também sei que (...) durante mais de duzentos anos, nós temos
nos esforçado (...) com outras nações, [por] um mundo com mais esperança.
Nosso compromisso nunca foi com qualquer tribo ou reino especificamente – na
verdade, todas as línguas são faladas em nosso país; todas as culturas
deixaram sua marca na nossa cultura; e cada ponto de vista é expressado em
nossas praças públicas. O que sempre nos uniu – o que sempre mobilizou o meu
povo – o que atraiu o meu pai para o território norte-americano, é um conjunto
de ideais que correspondem a aspirações compartilhadas por todos os povos: a
crença de que podemos viver livres do medo e de necessidades materiais graves;
de que podemos dizer o que pensamos, e reunir-nos com quem quisermos, e seguir
a religião que acharmos melhor. (...) Povo de Berlim – e povo do mundo – a
escala do nosso desafio é grande. O caminho à frente será longo. Mas venho
dizer a vocês que somos herdeiros de uma luta por liberdade. Que somos um povo
de esperanças improváveis. Com o olhar voltado para o futuro, com decisão em
nossos corações, que possamos lembrar desta história, fazer frente ao nosso
destino e refazer o mundo mais uma vez.”
Muito antes do discurso de Berlim, Obama já tinha esta clareza de metas.
Em fevereiro de 2007, ao fazer o discurso de lançamento da sua candidatura,
ele assumira um compromisso com a mudança ética e ecológica em escala
planetária:
“Sejamos a geração que finalmente liberta a América do Norte da tirania do
petróleo. Podemos usar combustíveis alternativos, produzidos localmente, como
o etanol, e aumentar a produção de carros com mais eficiência energética.
Podemos estabelecer um sistema de fixação de gases que produzem o efeito
estufa. Podemos transformar esta crise de aquecimento global em uma
oportunidade para inovar, e para criar empregos, e para incentivar
empreendimentos que servirão de modelo para o mundo. Sejamos a geração que faz
com que as futuras gerações tenham orgulho do que nós fizemos aqui.” (Fonte:
“Change We Can Believe In”, obra citada, pp. 198-199).
Sem receio de assumir metas visionárias – e olhando muito além das eleições
norte-americanas –, ele disse naquela ocasião inaugural:
“E se vocês se somam a mim nesta luta improvável, se vocês sentem o chamado do
destino, e vêem, como eu vejo, que o momento de acordar e de abandonar o medo
é agora, assim como o momento de pagar a dívida que temos diante das gerações
passadas e futuras, então estou pronto a assumir esta causa e marchar com
vocês, e trabalhar com vocês. Juntos, a partir de hoje, que completemos o
trabalho que necessita ser feito, de trazer para esta Terra um novo nascimento
da liberdade.” (Fonte:
“Change We Can Believe In”, obra citada, pp. 201-202).
A proposta de Obama para os Estados Unidos e o mundo é acusada por seus
adversários de ser vaga e ambígua. Ele chegou a ser qualificado como “pouco
norte-americano”. A verdade é que ele tem uma visão mais complexa e mais
profunda do que meras bandeiras eleitorais ou nacionalistas. A base do seu
discurso é simultaneamente inter-religiosa, ética e filosófica. Está na famosa
Regra de Ouro, um velho princípio da filosofia clássica grega e da antiga
sabedoria oriental, que foi ensinado por Confúcio nos “Analectos” e adotado
mais tarde pelo cristianismo. Este princípio ético milenar poderia ser
chamado, corretamente, de “lei do bom carma”.
Obama esclarece:
“No final das contas, o que se necessita é nada mais, nada menos, que aquilo
que todas as grandes religiões do mundo exigem – que façamos aos outros aquilo
que queremos que eles façam a nós. Devemos proteger o nosso irmão, como a
escritura diz. Devemos proteger a nossa irmã. Devemos encontrar aquele
interesse comum que todos temos uns nos outros, e fazer com que a nossa
política reflita este espírito.” (Fonte:
“Change We Can Believe In”, obra citada, p. 228).
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