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  TEMA: As mudanças em sua vida, após uma catástrofe  

Texto adaptado de trechos do livro Órbita, de autoria de John J. Nance.

Ao ler este livro fiquei impressionado com as idéias escritas durante uma situação de catástrofe e que podem ajudar muitas outras pessoas a refletirem sobre mudanças em suas vidas para virem a ser mais felizes. Apresento o texto aqui para que seja útil a você e outras pessoas, nessa reflexão.

Agradeço ao autor a possibilidade de repartir com mais pessoas essas idéias.

  

                                                                                       

A situação catastrófica aconteceu, qualquer que seja ela. De repente você está sozinho numa situação que não sabe se irá sobreviver, se estará vivo após uns 5 dias e se alguém o encontrará algum dia. E nessa situação você não pode sair de onde está , nada pode fazer a não ser escrever, pondo no papel o que passa em sua cabeça, com as reflexões que acontecem às pessoas que vivem situações catastróficas. Geralmente as pessoas analisam suas vidas, olhando para trás e o que fariam se tiverem a chance de sobreviverem.

Será que há alguém ai fora, além dos limites da situação que estou neste momento? Certamente que não! Pelo menos durante o que resta de minha vida, que será curta. Mas vou fingir que você está aí fora, seja qual for o ano em que finalmente vai ler minhas palavras, quando estas minhas anotações forem encontradas.

Suponho que eu deveria gritar Socorro! Socorro! Estou numa situação desesperadora e catastrófica neste pedaço de chão onde me encontro imobilizado e não vejo nenhuma saída para poder salvar minha vida. Não consigo nenhuma comunicação além deste espaço e a água e comida devem dar para no máximo 5 dias.

Não acho graça nenhuma. Eu devia ter mais água e comida para mais de 5 dias, mas no primeiro dia consumi além da conta, devido a estar em pânico, chorando com a minha situação, me revoltando, me comportando como um idiota. Agora está tudo bem. Sei que não tenho chance de ser encontrado aqui e ser resgatado e nem sobreviver.

Aceitei o risco ao vir para esta região em passeio, sem um guia que conhecesse a região e a avalanche que ocorreu me deixou aqui neste espaço de terra sozinho, sem possibilidades de alguém vir aqui e ouvir meus lamentos e me socorrer... Agora, porém, estou aqui, sabendo que tenho apenas alguns dias de vida para dizer alguma coisa, escrevendo, e a pior parte é que não posso nem me despedir de minha família e de meus amigos.

Meu problema, a propósito, é que a avalanche caiu em cima de mim e fiquei preso, com alguma coisa prendendo minhas pernas abaixo dos joelhos, e aqui há um espaço como se fosse uma caverna e quando há sol, durante o dia, consigo ver alguma luz por frestas e aproveito essa luz para escrever. Estou cheio de arrependimento porque minha atual esposa fez um apelo para eu não me aventurar sozinho por essas montanhas, para que eu não corresse riscos. Aposto que meu filho também não vai me perdoar, já que ele continua a me culpar pela morte da mãe dele, em um acidente de carro ocorrido quando ela ia buscá-lo na escola, me substituindo porque eu fiquei preso numa reunião no trabalho. E ele jamais terá chance de ouvir diretamente de mim por que isso tudo aconteceu.

Com 44 anos sou o pior de todos os machos, o pai de meia-idade no meio de uma crise existencial. Há tempos venho sentindo que desperdicei os últimos 20 anos ou que tomei o caminho errado em minha vida.

Estou me lamentando nestas linhas escritas. Não, não vou ficar aqui perdendo tempo em me lamentar. Vou lembrar de coisas boas. Ah, no passado, o tempo em que me apaixonava, chegava a ficar até sem comer ou pensar por uns dias. Houve uma moça que talvez tenha sido a minha maior paixão, eu a chamava de "Moça". Que lembrança boa eu tenho dela, com o sorriso nos lábios e nos olhos. Onde ela estará agora? Não contei esse amor para ninguém. Ela tinha um namorado e eu a amava de longe, sem ela saber. Como é bom reviver aquela época, ainda que por uma janela enfumaçada de memórias. Como é gostoso falar e lembrar de tempos felizes e do meu primeiro amor de verdade. Como eu ficava trêmulo de emoção quando ela se aproximava, durante as aulas na escola. Éramos da mesma turma e o que era pior, da mesma equipe que fazia pesquisas e trabalhos em grupos. Que tormento era ficar perto dela e sentir seu perfume, sentir a energia que brotava naturalmente dela. Ela mexia muito comigo, puxa vida! Eu me pegava, muitas vezes à noite, sozinho em meu quarto, a pensar nela e como seria se ela não tivesse compromisso com outro cara, se ela estivesse livre e eu pudesse ser seu namorado. Ah, como sonhei com isso, mas era, eu sabia, inacessível para mim. Mas eu sabia que se houvesse alguma chance, eu a faria a mulher mais feliz do mundo e ela a mim. Ela era uma pessoa muito importante para mim, naquela época de estudante e se tornou parte da minha vida, embora por pouco tempo, já que após formado na escola ela voltou para a cidade dela e se casou e eu nunca mais a vi.

Lembro que no ambiente de minha família raras vezes se constatava alegria, era mais um ambiente com tensões do dia-a-dia, mas em minhas lembranças não lembro de muitas alegrias não! Raras vezes consigo lembrar de meu pai sorrindo. Minha mãe eu lembro um pouco mais, mas também poucas vezes. Raramente ela sorria. Já a alegria era um sentimento que eu tentava viver com minha família, depois que casei, em especial com meu filho. O que eu não daria para poder abraçar de novo o meu garoto e vencer a barreira daquele rancor que ele tem de mim. O que eu não daria para ter de volta o meu menino. Sempre rezei para que um dia reconhecesse que o acidente da mãe não foi minha culpa, que não pude salvá-la e que não traí sua memória quando me casei de novo. Agora, naturalmente, qualquer esperança de que isso aconteça morrerá comigo em menos de cinco dias.

Não precisava ter me casado aos 22 anos, mas na época a mãe dele parecia a pessoa lógica para desposar. Apreciávamos a companhia um do outro, de um jeito meio passivo, além de querermos 2 ou mais filhos, um carro na garagem de uma casinha, o sonho natural de vida da classe média. Em outras palavras, optamos por um casamento de meia-idade aos 22 anos. Quão patético isso me parece agora. Não que eu não a amasse e passasse a amá-la mais, mas que tenhamos decidido ser práticos e chegado à conclusão de que esperar para se apaixonar por alguém seria uma perda de tempo, pois, certamente, esse amor não duraria para sempre e, nesse caso, o que restaria? De modo que deixamos de lado a paixão. E a vida? Fechamos os olhos e fomos em frente. Sei que meu filho odiaria me ouvir dizer essas coisas sobre a mãe dele, mas a verdade às vezes é dolorosa. Ela foi uma mulher maravilhosa (apesar da depressão que tentava esconder). Mas meu filho cresceu sem ver nos pais aquela paixão pela vida que hoje observo em toda parte. Homens e mulheres que, apesar de casados ou simplesmente juntos, são espontâneos e ainda podem ter empregos e profissões decentes. Minha primeira esposa e eu éramos incapazes de fazer alguma coisa por impulso. No entanto, não é assim que a vida se torna divertida? Quando não é tão planejada? Por que ninguém me alertou?

Aqui estou numa situação que não sei se conseguirei sair vivo, se serei encontrado nos próximos dias, antes que a água e comida de minha mochila acabem. Consigo ver uma réstia de céu azul lá em cima. É como se literalmente o céu ficasse do tamanho dessa pequena parte que eu consigo enxergar. Meu Deus, tenho vontade de gritar para todos os habitantes deste planeta Terra: não percam tempo se sentindo mal por serem humanos e imperfeitos. reconheçam os próprios erros, corrijam-nos e sigam em frente, mas assumam o risco de desfrutar o que têm e sejam suficientemente corajosos para mudar o que não está funcionando.

Se eu tivesse um megafone forte o bastante para ser ouvido ai fora e em todo o planeta, recomendaria mais uma coisa, com todas as letras: digam aos filhos que vocês os amam e têm orgulho deles. Passem com eles o mais tempo possível, o tempo que puderem. Nunca terei outra chance de dizer ao meu filho que o papai sente um grande amor por eles, mas todas essas mamães e papais do planeta, ainda têm essa chance, ainda podem dizer...

Aqui nesta situação, esperando os dias passarem e o resto de vida que me resta acabar, fico a pensar, se eu pudesse, como teria sido minha vida ideal? É estranho, devia ser fácil imaginar, mas vejo que é difícil. Como seria a esposa ideal que me faria feliz no casamento? Ela me receberia após o dia de trabalho, de braços abertos, estaria junto comigo em todas as situações pessoais e profissionais, lutando junto na difícil tarefa de sobreviver na sociedade humana, seria tão amorosa e íntima comigo quanto eu seria com ela. Acho que muitos homens esquecem, ou talvez nem cheguem a conhecer, o modo como a mente de uma mulher funciona, o desejo simples de ser amada, querida e não tratada com descaso. Os homens precisam da expressões de amor, ternura, carinho, atenção e apreço, porque se esquecem de que as mulheres precisam disso também? Paro de pensar um pouco e vejo que os erros de minha atual esposa não são só dela, mas que eu poderia ter me comportado melhor com ela, valorizando-a mais, dando mais atenção a ela. Pena que não terei chance de colocar em prática o que aprendi.

Certa vez imaginei em minha vida uma mulher ideal. Eu nunca havia imaginado esse tipo de relacionamento, em que os dois simplesmente anseiam ficar lado a lado, vivendo os momentos da vida coma alegria e emoção. Essa mulher ideal nunca existiu em minha vida, só fez parte de um sonho, de como eu gostaria que minha vida tivesse sido. Apaguei minha vida real porque queria uma vida melhor, cheia de realizações, mas conservaria meu filho, que amo. Sinto mais falta dele do que tudo.

É verdade que trabalhei arduamente para ser alguém na vida. Poderia ter decidido tornar-me um rei, um bilionário como Bill Gates. Mas cheguei à conclusão de que quem quer que eu resolva ser, ainda serei eu, apesar do dinheiro, dos adornos e de toda a educação do mundo. Acho que o que somos permanece o mesmo e acho que no interior de cada um de nós existe uma criança pequena que não conta para o adulto em nós o que está errado. E muitas vezes essa criancinha ainda está muito aborrecida com alguma coisa que aconteceu há tanto tempo que não se lembra mais dos detalhes, apenas do aborrecimento. Assim, nesta minha "nova" vida, acho que o que tentei passar para vocês tinha tudo a ver com o garotinho dentro de mim e o que o aborrecia, e não a perda da esposa. Quando nasci papai tinha 41 anos. Muitos anos depois, ele era um homem doente de oitenta e tantos anos, não podia tomar conta de si mesmo e mamãe havia morrido, de modo que precisei agir. Internei-o em um bom asilo que tinha condições de cuidar bem dele. Sabia que ele odiava a idéia, mas não protestou e assim, vendi a casa dele e o dinheiro foi utilizado para as despesas dele. Fui muito eficiente e levei apenas um mês para resolver tudo. Achei que ele apreciaria isso - a eficiência. Depois que tive certeza de que estava tudo bem, despedi-me. Com um aperto de mão, a forma como sempre nos cumprimentávamos. Eu morava logo na outra cidade, distante uns 50 km e pretendia visitá-lo pelo menos uma vez por mês, mas sempre aparecia alguma coisa, e quando tentava ligar, geralmente muito tarde, eu tinha que ouvir um pequeno sermão da enfermeira da noite. Usei isso como desculpa para parar de ligar. Assim a vida passou e uma noite, quando eu estava lamentando a falta de expressões abertas de amor por parte da minha família, decidi ir vê-lo e dizer que o amava, palavra que nós dois jamais havíamos pronunciado. Pretendia visitá-lo pessoalmente porque nunca parecia encontrar o momento certo para telefonar e porque estava ficando muito velho e frágil. Comecei a procurar uma oportunidade favorável - o que significa realmente que comecei a arranjar desculpas para adiar a visita. Ainda estava nesse jogo quando soube que ele havia morrido. Sozinho. Há muitos momentos em que penso em meu pai. Todos esses anos e nunca liguei para ele e disse: - Ei, papai, sabe de uma coisa? Não precisa dizer nada, mas eu amo você!

Acordei agorinha com a luz do sol entrando pela fresta dos escombros que vejo acima de mim. Enquanto olho aquela pequena faixa de luz do sol, volto á realidade. Oh, meu Deus, hoje será meu último dia de vida? A água e a comida de minha mochila acabam hoje. Fecho os olhos, tentando lutar contra o desespero. Vou morrer hoje ou o mais tardar amanhã. Pensei que estivesse conformado. Pensei que estivesse preparado. Mas, por que minhas mãos estão tremendo? Há quatro dias que sei que não vou conseguir sair desta situação catastrófica. Mas ainda sou capaz de encarar a realidade. Mas se hoje é meu último dia posso fazer qualquer coisa! Lembrei de certa vez que li que os prisioneiros americanos no corredor da morte, por mais calejados e sociopatas que sejam, perdem a coragem pouco antes da execução, e agora compreendo por que. Já não é mais uma situação hipotética. Deixar esta vida e este corpo está para ser sua nova realidade.

De repente sinto um lampejo de esperança, uma sensação de que pode haver uma saída que ainda não havia me ocorrido. Se as pernas estão presas por algo que caiu em cima e não me deixam sair deste lugar, então por que não tento sair por baixo, tirando a terra abaixo das pernas, fazendo um buraco para as pernas caírem nesse buraco saindo de onde estão? Depois de refletir sobre tantos problemas de minha vida está na hora de enfrentar esse novo desafio. Se eu estivesse em um barco e ele começasse a fazer água, eu não tamparia o buraco no casco? Claro! Mas fiquei aqui deitado supondo que não havia nada a fazer a não ser esperar que alguém me encontrasse e me socorresse, embora, no fundo, soubesse que não é verdade. Há uma coisa que eu possa fazer, ou tentar, mesmo que seja a última coisa a fazer. Vou tentar raspar a terra em torno de minhas pernas, pegando um pedaço de madeira ao meu alcance. Quais as minhas chances? O que tenho a perder? Se não conseguir, morro aqui mesmo. Sabe de uma coisa? Estou começando a me sentir leve. Ou apenas aliviado porque o meu fim está chegando. Aliviado e apavorado! Essa é a razão porque tive essa brilhante idéia que não tinha antes pensado. Preciso fazer alguma coisa além de ficar aqui deitado, esperando que o inevitável aconteça.

Quero que você saiba - quem quer que você seja e em que ano esteja lendo isto - que só de pensar em outro ser humano absorvendo esta verborragia de minhas palavras escritas me faz sentir menos solitário. Obrigado por aturar meus resmungos escritos, minhas lamentações, minhas lições de moral! Se meu filho ainda estiver vivo quando estes escritos forem algum dia encontrados, façam com que leia minhas anotações. E se minha esposa estiver ainda viva, apenas isto: sinto muito, gostaria que as coisas tivessem sido melhores para nós como um casal.

Há uma última mensagem geral que quero deixar. Desejo para todos vocês um futuro no qual todo ser humano guarde na mente a cena que os três astronautas americanos da Apolo 8 presenciaram em 1968 quando a pequena e maravilhosa bola azul em que vivemos surgiu no horizonte lunar depois de passarem pela face oculta - um oásis de beleza em um mar infinito semeado de estrelas - e perceberam que estavam olhando para a espaçonave Terra, nosso lar. De repente, guerras, fronteiras e conflitos baseados em teorias lhes pareceram uma grande estupidez, e embora na realidade estejamos muito longe de ser uma espécie que compartilha essa incrível visão, devemos - vocês devem - continuar a caminhar nessa direção.

Essa busca de harmonia e amor que um homem da Galiléia tentou nos ensinar há tanto tempo ainda deve ser a nossa busca, sem quais forem os rótulos que colocarmos na mensagem. "Nós" pode parecer um conceito estranho, já que estou de partida desta vida. Acontece que fui parte da espaçonave Terra e da família humana, uma espécie pioneira que ainda está relativamente cega a uma verdade profunda, difícil de ver quando você está trabalhando demais, pagando as contas e criando filhos: somos todos tão interligados! Mesmo eu, aqui nesta situação isolada, esperando para morrer, estou ligado a todos da Terra, e no momento em que escrevo estas palavras posso sentir o calor de preces incontáveis e um mar de desejos de boa sorte, se toda a população do planeta tivesse conhecimento de minha situação e estivesse dizendo telepaticamente: Está tudo bem, aconteça o que acontecer, está tudo bem. Sei que ninguém lá fora é capaz de captar um único pensamento meu, mas desde que estou aqui nunca me senti tão acolhido como neste momento. Agora, porém, preciso tentar um pouco de auto-ajuda, para que eu saiba que não me limitei a ficar aqui deitado, ignorando a opção que descobri ser possível. Assim, se eu não escrever mais nada, obrigado. Deixei esta vida tão calmamente quanto pude. Não com muita coragem, mas calmamente. Acho que, no geral, fui muito afortunado...

PS. Estas linhas finais escrevi alguns dias depois de ter conseguido sobreviver. Peguei uma madeira que estava perto de mim e com os braços livres comecei a arrastar a areia e terra e pedras que estavam em volta de minhas pernas e arrastava esses materiais até onde meu braço e a madeira alcançavam. E assim fui cavando e consegui fazer as pernas saírem debaixo dos entulhos e com as pernas livres comecei a me arrastar e explorar o buraco onde me encontrava, no meio dos entulhos e consegui encontrar um buraco que poderia ser uma saída dali, e fui retirando uma pedra aqui e outra ali, até que finalmente me vi livre daquela situação, chegando ao topo dos entulhos. E assim, começou a minha caminhada saindo daquele lugar e chegando a uma cidadezinha e de lá consegui chegar "à civilização" e à cidade onde eu residia. E ai está minha história de "sobrevivente" de uma catástrofe. Espero que as idéias que escrevi naqueles momentos de desespero sejam úteis para outros refletirem sobre suas vidas.

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