Premiada
pela UNESCO, Clarice Zeitel, de 26 anos, estudante que está
terminando em 2011 o Curso de Direito da UFRJ, concorreu com outros
50 mil estudantes universitários. Ela recebeu o prêmio da
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(UNESCO) por uma redação sobre 'Como vencer a pobreza e a
desigualdade'. Leia o texto que ela escreveu.
Tema:'Como vencer a pobreza e a desigualdade' . Por
Clarice Zeitel Vianna Silva UFRJ - Universidade Federal do Rio de
Janeiro - Rio de Janeiro – RJ
'PÁTRIA MADRASTA VIL'
Onde já se
viu tanto excesso de falta? Abundância de inexistência. .. Exagero
de escassez... Contraditórios? ? Então aí está! O novo nome do nosso
país! Não pode haver sinônimo melhor para BRASIL.
Porque o Brasil nada mais é do que o excesso de falta de
caráter, a abundância de inexistência de solidariedade, o exagero de
escassez de responsabilidade.
O Brasil nada mais é do que uma combinação mal
engendrada - e friamente sistematizada - de contradições.
Há quem diga que 'dos filhos deste solo és mãe gentil.',
mas eu digo que não é gentil e, muito menos, mãe. Pela definição que
eu conheço de MÃE, o Brasil está mais para madrasta vil.
A minha mãe não 'tapa o sol com a peneira'. Não me
daria, por exemplo, um lugar na universidade sem ter-me dado uma
bela formação básica.
E mesmo há 200 anos atrás não me aboliria da escravidão
se soubesse que me restaria a liberdade apenas para morrer de fome.
Porque a minha mãe não iria querer me enganar, iludir. Ela me daria
um verdadeiro Pacote que fosse efetivo na resolução do problema, e
que contivesse educação + liberdade + igualdade. Ela sabe que de
nada me adianta ter educação pela metade, ou tê-la aprisionada pela
falta de oportunidade, pela falta de escolha, acorrentada pela minha
voz-nada-ativa. A minha mãe sabe que eu só vou crescer se a minha
educação gerar liberdade e esta, por fim, igualdade. Uma segue a
outra... Sem nenhuma contradição!
É disso que o Brasil precisa: mudanças estruturais,
revolucionárias, que quebrem esse sistema-esquema social montado;
mudanças que não sejam hipócritas, mudanças que transformem!
A mudança que nada muda é só mais uma contradição. Os
governantes (às vezes) dão uns peixinhos, mas não ensinam a pescar.
E a educação libertadora entra aí. O povo está tão paralisado pela
ignorância que não sabe a que tem direito. Não aprendeu o que é ser
cidadão.
Porém, ainda nos falta um fator fundamental para o
alcance da igualdade: nossa participação efetiva; as mudanças dentro
do corpo burocrático do Estado não modificam a estrutura. As classes
média e alta - tão confortavelmente situadas na pirâmide social -
terão que fazer mais do que reclamar (o que só serve mesmo para
aliviar nossa culpa)... Mas estão elas preparadas para isso?
Eu acredito profundamente que só uma revolução
estrutural, feita de dentro pra fora e que não exclua nada nem
ninguém de seus efeitos, possa acabar com a pobreza e desigualdade
no Brasil.
Afinal, de que serve um governo que não administra? De
que serve uma mãe que não afaga? E, finalmente, de que serve um
Homem que não se posiciona?
Talvez o sentido de nossa própria existência esteja
ligado, justamente, a um posicionamento perante o mundo como um
todo. Sem egoísmo. Cada um por todos.
Algumas perguntas, quando auto-indagadas, se tornam
elucidativas. Pergunte-se: quero ser pobre no Brasil? Filho de uma
mãe gentil ou de uma madrasta vil? Ser tratado como cidadão ou
excluído? Como gente... Ou como bicho?
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