TEMA: O CHARME DAS FEIAS-BONITAS
(Autora: Martha Medeiros)
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de contato: martha.medeiros@oglobo.com.br
SE VOCÊ, COMO EU, NÃO É NENHUMA Gisele Bündchen,
não há motivo para se desesperar em frente ao espelho. Quem dera ser uma deusa,
mas não sendo, há chance de sermos incluídas no time das interessantes. Junte
nove lindas e uma mulher interessante e será ela quem vai se destacar entre as
representantes do marasmo estético. Perfeição, você sabe, entedia.
Mulher interessante é aquela que não nasceu com tudo no lugar, a não ser a
cabeça e, às vezes, nem isso, pois as malucas também têm um charme que vou te
contar. A mulher interessante não é propriamente bonita, mas tem personalidade,
tem postura, tem um enigma no fundo dos olhos, uma malícia que inquieta a todos
quando sorri e um nariz diferente. São também conhecidas como feias-bonitas.
Eu poderia citar um batalhão de feias-bonitas que, aqui no Brasil, são públicas
e notórias, mas vá que elas não considerem isso um elogio. Então vou dar um
exemplo clássico que vive a quilômetros de distância: Sarah Jessica Parker. É
uma feia lindona. Uma feia classuda. Uma feia surpreendente. Adoro este tipo de
visual. Mulheres com rostos difíceis de classificar, que não se enquadram em
nenhum padrão.
A Meryl Streep agora está meio rechonchuda, mas quando surgiu como coadjuvante
em Manhattan, filme de Woody Allen, chamou a atenção não só pelo talento, mas
pelo seu ar blasé, seu porte altivo e uma sobrancelha que arqueava
interrogativamente, como se perguntasse: e aí, você já decidiu se lhe agrado ou
não? Paralisante.
Esse gênero de mulher não figura nos anúncios da Lancôme e não possui um rosto
desenhado com fita métrica: olhos, boca e nariz a uma distância equilibrada um
dos outros. Nada disso, a feia-bonita é aquela que não causa uma excelente
impressão à primeira vista. Ao contrário, causa estranhamento. As pessoas
questionam-se. O que é que essa mulher tem? Ela tem algo. Pronome indefinido:
algo.
Ficar bonitinhas, muitas conseguem, mas ter algo é para poucas. Não dá para
encomendar num consultório de cirurgia plástica. Não adianta musculação, dieta,
hidratantes. Feias-bonitas têm a boca larga demais. Ou um leve estrabismo. Ou um
nariz adunco. Ou seja, este algo que elas têm é algo errado. Mas que funciona
escandalosamente bem.
E há aquelas que não têm nada de errado, mas também nada de relevante. Um zero a
zero completo, e ainda assim se destacam. Um exemplo? Aquela menina que atua no
Homem-Aranha, Kirsten Dunst. Jamais será uma Michelle Pfeiffer, mas a menina tem
algo. Quem dera que esse algo fosse vendido em frascos nos freeshops da vida.
Se o fato de ser uma feia-bonita é, digamos, uma ótima compensação, ser um
feio-bonito é o prêmio máximo. Eu, ao menos, prefiro-os disparadamente aos
bonitos-bonitos. Não é que eu tolere um narigão num homem: ele tem que ter um!
Nada de baby face. É obrigatório uma cicatriz, ou um queixo pronunciado, um
olhar caído. Você está se lembrando de um monte de cafajestes, eu sei. Ou de um
monte de italianos. É esse tipo mesmo, você pegou o espírito da coisa.
Feias-bonitas e feios-bonitos tornam a vida mais generosa, democrática,
divertida e interessante. Não podemos ter tudo, mas algo se pode ter.
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