Meu pai está com Alzheimer. Logo ele que durante toda vida, se dizia "o
Infalível". Logo ele, que um dia ao tentar me ensinar matemática, disse que as
minhas orelhas eram tão grandes que batiam no teto. Logo ele que repetiu, ao
longo desses 54 anos de convivência, o nome do músculo do pescoço que aprendeu
quando tinha treze anos e que nunca mais esqueceu: externocleidomastóideo.
O diagnóstico médico ainda não é conclusivo, mas para mim, basta saber que ele
esquece o meu nome, mal anda, toma os líquidos de canudinho, não consegue
terminar uma frase, nem controla mais suas funções fisiológicas, e tem os
famosos delírios paranoides comuns nas demências tipo Alzheimer. Aliás, fico
até mais tranquilo diante do "eu não sei ao certo" dos médicos, prefiro isso
ao "estou absolutamente certo de que...", frase que me dá arrepios.
Há trinta anos, não ouvia sequer uma menção a essa doença maldita. Hoje,
precisaria ter o triplo de dedos nas mãos para contar os casos relatados por
amigos e clientes em suas famílias. O que está acontecendo? Estamos diante de
um surto de Alzheimer? Finalmente nossos hábitos de vida "moderna" estão
enviando a conta? O que os pesquisadores sabem de verdade sobre a doença?
Qual é o lado oculto dessa manifestação tão dolorosa? Lendo o material
disponível, chega-se a uma conclusão, essa é uma doença extremamente complexa,
camaleônica de muitas faces e ainda carregada de mistérios. Sabe-se por
exemplo, que há um componente genético, por outro lado, o Dr. William Grant,
fez uma pesquisa que complicou um pouco as coisas. Ele comparou a incidência
da doença, em descendentes de japoneses e de africanos que vivem nos EUA, com
japoneses e nigerianos, que ainda vivem em seus respectivos países. Ele
encontrou uma incidência da doença da ordem de 4,1 para os descendentes de
japoneses que vivem na América, contra apenas 1,8 de japoneses do Japão. Os
afro-americanos vão mais longe: 6,2 desenvolvem a doença, enquanto apenas 1,4
dos nigerianos é atingido por ela. Hábitos alimentares? Stress das pressões do
1º Mundo? Mas o Japão não é 1º Mundo? Não tem stress? A alimentação parece
ser sem dúvida um elo nessa corrente, e mais ainda o alumínio. Segundo algumas
pesquisas, a incidência de alumínio encontrada nos cérebros de portadores da
doença, é assustadoramente alta.
Pesquisas feitas na Austrália e em alguns países da Europa, mostraram que
ratos alimentados com uma dieta rica em sulfato de alumínio, (comumente
colocado na água potável para matar bactérias), danificou os cérebros dos
roedores, de forma muito similar às causadas nos humanos pelo Alzheimer.
Pesquisas do Dr.Joseph Sobel, da Universidade da Califórnia do Sul, mostraram,
que a incidência da doença é três vezes maior em pessoas expostas à radiação
elétrica (trabalhadores que ficavam próximos a redes de alta tensão ou a
máquinas elétricas). Mas não param por aí as pesquisas, que apontam a arma em
todas as direções. Porém, a que mais me chocou, e motivou a fazer minhas
próprias elucubrações foi o estudo das freiras.
Esse estudo citado no livro A Saúde do Cérebro, Dr. Robert Goldman, Ed.
Campus, foi feito pelo Dr. Snowdon, da Universidade de Kentucky. Eles
estudaram 700 freiras do convento de Notre Dame. Na verdade, eles leram e
analisaram as redações autobiográficas, que cada freira era obrigada a
escrever logo ao entrar na ordem. Isso ocorria quando elas tinham em média 20
anos. Essas freiras (um dos grupos mais homogêneos possíveis, o que reduz
muito as variáveis que deveriam ser controladas), foram examinadas
regularmente e seus cérebros investigados após sua morte. O que se constatou
foi surpreendente. As que melhor se saíram, nos testes cognitivos, e nas
redações, em termos de clareza de raciocínio, objetividade, vocabulário,
capacidade de expressar suas ideias; mesmo apresentando os acidentes
neurológicos típicos do Alzheimer (placas e massas fibrosas de tecido morto)
não desenvolveram a demência característica da doença. Ou seja, elas tinham as
mesmas sequelas que as outras freiras com Alzheimer diagnosticado, (e que
tiveram baixos escores em testes cognitivos e na redação), mas não os sintomas
clássicos, como os do meu pai.
A minha interpretação de tudo isso: Não temos muito como
controlar todos os fatores, de risco apontados como vilões, alimentação,
pressão alta, contaminação ambiental, stress, e a genética (por enquanto).
Mas podemos colocar o nosso cérebro para trabalhar. Como? Lendo muito,
escrevendo, buscando a clareza das ideias, criando novos circuitos neurais,
que venham a substituir os afetados pela idade e pela vida"bandida". Meu
conselho: não sejam infalíveis como o meu pobre pai, não cheguem ao topo
nunca, pois dali, só há um caminho: descer. Inventem novos desafios, façam
palavras cruzadas, forcem a memória, não só com drogas (não nego a sua
eficácia principalmente as nootropicas), mas correndo atrás dos vazios e
lapsos. Eu não sossego enquanto não lembro do nome de algum velho conhecido,
ou de uma localidade onde estive há trinta anos. Leiam e se empenhem em
entender o que está escrito, e aprendam outra língua, mesmo aos sessenta anos.
Não existem estudos, provando que o Alzheimer é a moléstia preferida dos
arrogantes, autoritários e autosuficientes, mas a minha experiência mostra
que pode haver alguma coisa nesse mato. Coloquem a palavra FELICIDADE no topo
da sua lista de prioridades. Sete (7) de cada 10 doentes, nunca ligaram para
essas "bobagens" e viveram vidas medíocres e infelizes. (muitos nem mesmo
tinham consciência disso). Mantenha-se interessado no mundo, nas pessoas, no
futuro. Invente novas receitas, experimente não gosta de ir para a cozinha?
(Hum.. preocupante). Lute, lute sempre, por uma causa, por um ideal, pela
felicidade. Parodiando Maiakovski ("melhor morrer de vodka do que de tédio"),
digo: melhor morrer lutando o bom combate, que ter a personalidade roubada
pelo Alzheimer. Vamos nos cuidar...
Dicas práticas para escapar do Alzheimer
Uma descoberta dentro da Neurociência vem revelar que o cérebro mantém a
capacidade extraordinária de crescer e mudar o padrão de suas conexões.
Os autores desta descoberta, Lawrence Katz e Manning Rubin (2000),
revelam que NEURÓBICA, a ''aeróbica dos neurônios'', é uma nova forma
de exercício cerebral projetada para manter o cérebro ágil e saudável,
criando novos e diferentes padrões de atividades dos neurônios em seu
cérebro.
Cerca de 80% do nosso dia-a-dia é ocupado por rotinas que, apesar de
terem a vantagem de reduzir o esforço intelectual, escondem um efeito
perverso: limitam o cérebro. Para contrariar essa tendência, é
necessário praticar exercícios ''cerebrais'' que fazem as pessoas
pensarem somente no que estão fazendo, concentrando-se na tarefa.
O desafio da NEURÓBICA é fazer tudo aquilo que contraria as rotinas,
obrigando o cérebro a um trabalho adicional.
Tente fazer um teste:
- use o relógio de pulso no braço direito;
- escove os dentes com a mão contrária da de costume;
- ande pela casa de trás para frente; (vi na China o pessoal treinando
isso num parque);
- vista-se de olhos fechados;
-
- estimule o paladar, coma coisas diferentes;
- veja fotos de cabeça para baixo;
- veja as horas num espelho;
- faça um novo caminho para ir ao trabalho;
A proposta é mudar o comportamento rotineiro. Tente,
faça alguma coisa diferente com seu outro lado e estimule o seu cérebro.
Vale a pena tentar! Que tal começar a praticar agora, trocando o
mouse de lado?