MENSAGENS EDUCATIVAS POSITIVAS
TEMA: UMA SÁTIRA AO RITUALISMO E AS MODERNAS TÉCNICAS ADMINISTRATIVAS
(Autoria: James Dowe)
Tudo começou com... Mas, surgiu um problema: não podia estar em toda a
parte ao mesmo tempo. Tive que contratar um Gerente de Vendas para tomar
conta dos vendedores e atender à clientela. Até então,
tudo ia muito bem com um guarda-livros responsável também pela folha de
pagamento, e com um contador externo para controlar os impostos. Logo, o
guarda-livros precisou de auxílio - não dava mais conta das faturas, mesmo
com horas extras. Daí para a contratação de um tesoureiro foi um passo.
Ele começou a cuidar de minhas contas pessoais e até das da família. Não
demorou muito e resolveu fazer também o trabalho de contador externo -
execução da auditoria. Assim, passava a dispor de um quadro trimestral de
nossas finanças.
Em realidade, eu não precisava de nada disso,
controlava os pedidos e as cobranças diariamente, sabia de tudo o que se
passava e não era da conta de ninguém quanto estava ganhando. Mas o homem
continuava a enumerar razões e acabei concordando: ele começou a armar um
complexo sistema de custos, contratou um contador chefe, funcionários e
equipamentos, numa fase em que não havia sequer espaço disponível.
Então o tesoureiro começou a interferir. Eu fazia os orçamentos, decidia o
que ia fabricar, conhecia meus custos, fazia as compras e "checava" as
respectivas faturas. Ele dizia que estávamos vendendo abaixo do custo. O
Gerente de Vendas, por sua vez, resolveu fazer publicidade. Nossos
clientes nos conheciam e gostavam dos nossos produtos e nossos preços,
mesmo quando reclamavam sobre os atrasos das entregas, porque não podíamos
dar conta de todos os pedidos. Assim, para que anunciar? Mas ele insistia,
dei-lhe uma pequena verba. Foi a conta. Não demorou e o tesoureiro pediu
um orçamento publicitário para sabermos quanto deveríamos gastar. Quando
engoli o anzol, passou a falar em previsões de vendas - já não se
contentava com a minha estimativa para o ano. Para mim, os vendedores que
ganhavam por comissão iriam dar o máximo de qualquer forma. Mas não, era
preciso fazer tudo conforme o tesoureiro, por mês, por produto e por
homem. Nunca vi tanto papel em minha vida. Mas o tesoureiro e o Gerente de
Vendas estavam felizes, e eu tinha um relatório financeiro mensal para
verificar e comparar com o orçamento. Deixei a coisa correr.
Sempre tive um homem na produção para tocar a fábrica e a expedição. Mas
as coisas haviam chegado a tal ponto que não precisávamos "calcular o
retorno do capital empatado" para saber que o Controle de Qualidade já não
era o mesmo, os estoques lotavam os corredores, os homens trabalhavam
horas extras e a linha de produção estava entupida. Não havia nada a fazer
senão construir uma nova fábrica. Perdemos um dinheirão na mudança e o
homem da produção ainda queria um chefe de almoxarifado. As despesas
administrativas subiam sem parar e eu achava até engraçado o número de
pessoas não produtivas que tinha agora na folha de pagamento.
Se tudo isso não bastasse, minha filha casou-se e
convenceu-me a convidar meu genro a trabalhar comigo. Ele era formado em
Administração de Empresas e como todo recém-formado estava ansioso por
aplicar o que aprendera. Pensam que ele desejou começar pelos escalões
inferiores da fábrica, para se ambientar com o maquinário? Na linha de
produção, por exemplo, para conhecer os problemas da produção? Ou no
setor de vendas, para travar contato com os clientes? Nada disso! Queria
ser assistente executivo do presidente, fosse lá o que isso fosse.
Concordei, para fazer minha filha feliz. Vi-o perdendo tempo em
conferências com o tesoureiro e, um belo dia, propuseram-me, com toda a
seriedade, um computador. Bem, era meu genro e como seu brinquedo não
prejudicaria a produção e as vendas, fiz-lhe a vontade. Para que! A máquina exigiu programadores, vieram os especialistas em processamento de dados,
tive de dispensar o contador externo e contratar uma grande firma de
auditoria. Éramos um pequeno negócio de 10 milhões de dólares e parecíamos
a General Motors! Quando o computador começou a
trabalhar, parei de ver os pedidos. Precisavam gravá-los numa fita e isso
era mais importante do que passarem por mim. Prometeram-me toda sorte de
tabulações de pedidos e, como era de se prever, o tal computador não
funcionou. E eu estava sem pedidos nem tabulações. E a
onda foi crescendo: formou-se uma junta administrativa, com o Gerente de
Produção, o Gerente de Vendas, o Tesoureiro, meu genro e eu; vieram os
comitês de "marketing", relações industriais e não sei mais o quê. Eu
estava acostumado a tomar decisões na hora, mas agora o comitê tinha de
opinar a respeito de tudo.
- "É bom para
as comunicações" - dizia meu genro - "mais ideias, melhor julgamento, uma
verdadeira equipe administrativa".
- "Tempo é
dinheiro" - retruquei - "e vocês estão perdendo um tempo inútil com
reuniões que não acabam mais".
Mas eu
concordei com os comitês, conquanto me coubesse a última palavra. Os
lucros subiam e o computador dava-me a posição do caixa diariamente.
Isso, porém, era a bonança antes da tempestade. No dia em que repreendi o
Gerente de Vendas, em uma reunião do tal comitê, ele alegou que a falha
era porque não tínhamos pesquisa de mercado. Meu genro reclamou planos a
longo prazo para o negócio. Ouvindo-o falar, parecia que eu estava traindo
os empregados, os clientes e toda a iniciativa privada. O tesoureiro achou
o planejamento uma boa ideia e uma lógica extensão do orçamento; e o tolo
do meu genro colocou um economista na folha de pagamento. Criaram-se
sofisticado sistema de informações, com os consultores para projetá-lo e
mantê-lo. Até o Gerente de Produção aderiu:estavam todos intoxicados com a
ideia de crescimento, tecnologia administrativa, investimentos para o
futuro, controles. Mais e mais como Detroit - mas eu ainda não estava
livre do anzol. Disseram-me que precisávamos de um fundo R e D para
colocar a linha de produção nos moldes de Detroit, com novos modelos todo
ano. Meu genro chamava isso de inovação - precisávamos nos distanciar dos
competidores ou ficaríamos para trás. Insistiram tanto nisso que lhes dei
um pequeno orçamento, sabendo de antemão o que ia suceder no ano seguinte.
Considero-me um
homem paciente, por isso permiti todos aqueles esquemas. Gerentes são como
crianças que precisam de novos brinquedos para se sentirem felizes. Além
disso - pensei - talvez algo de útil resultasse daquilo algum dia. Mas ele
exageraram até o ponto de verificar como eu estava usando o meu tempo.
Tive ímpetos de despedi-los e acabar com tudo. Orgulho-me de tratar
pessoalmente com os clientes e boa parte do meu tempo é gasta na
investigação de queixas, especialmente entregas atrasadas.
E por que não? Entregas significam faturas, dinheiro em caixa! Mas meus
gerentes estavam contaminados com as ideias altissonantes de meu genro.
Detalhes eram coisas para computadores e funcionários subalternos.
Executivos só lidavam com grandes negócios! E veio um chorrilho de manuais
- manual para organização, manual para procedimentos, política
empresarial. Vocês não acreditariam se vissem as discussões que tivemos no
comitê. Quase nos agredimos! Acusaram-me de paternalista - e nós tínhamos
os melhores empregados imagináveis. Disseram-me que eu estava impedindo o
desenvolvimento dos gerentes, fazia tudo sem consistência. Disse-lhes que
era preciso ser flexível. Meu genro teve a coragem de acusar-me cara a
cara de ditar normas a qualquer um, de acordo com as circunstâncias, sem
escrevê-las no papel. Respondi mostrando àqueles ineptos o que estavam
fazendo: eram só despesas com assistentes, atraso de informações, fatos
torcidos - todos perdidos em escalões e compartimentos administrativos
trocando memorandos entre si. Alegaram:
- "Temos que delegar poderes para desenvolver os subordinados".
- "Nosso
negócio - retruquei - não é desenvolver executivos. Gastem dinheiro em
manuais, se quiserem, mas o negócio é meu e eu sou o presidente""
As coisas aquietaram depois disso. Creio, porém, que a discussão chegou
aos ouvidos da minha esposa, pois meu médico começou a recomendar aquela
dieta para baixar a pressão e entrou em cena a rotina do "não se
preocupe".
Um belo dia, falaram em ter uma diretoria constituída. Resisti, não queria
estranhos metendo o nariz em meus negócios. Argumentaram com a vantagem de
ter um outro negociante bem sucedido e com boas relações para conseguir
contratos. Coloquei um dos nossos melhores clientes e um dos nossos
melhores fornecedores na diretoria e meu genro nomeou-os gerentes. Que
fizessem sua convenção, desde que eu controlasse a companhia.
Direção de equipe - devia ter percebido onde meu genro queria chegar. Na
primeira reunião, com todos os diretores presentes, nosso vice-presidente
executivo - isso é o que meu genro pensa que é - levantou-se e propôs que
nossas ações fossem abertas ao público. perguntei indignado, o que
significava aquilo e ele me respondeu tranquilamente que era preciso ter
um valor de mercado para as ações, de forma a que pudéssemos adquirir
outra empresa.
- "E o que há
de errado com a atual?" - perguntei.
- "Nada, respondeu ele - mas é preciso diversificar e expandir".
Claro que a
diretoria concordou com ele. Expliquei-lhe com a calma que pude manter que
era minha a companhia e e ela era a minha vida. Retrucaram que eu já
estava entrando em anos e que não deveria deixar minha viúva com todos os
ovos guardados em um só cesto. Entrado em anos? Viúva? levantei-me
indignado e confuso e fui para minha casa.
Minha família já devia estar a par de tudo. Encontrei minha mulher e filha
à minha espera. Minha mulher perguntou-me o que eu mais desejava na vida e
se não poderíamos ter pelo menos umas férias para compensar a lua de mel
que nunca tivéramos. Minha filha disse que meu genro não resignaria por
minha causa e eu deveria nomeá-lo presidente e deixar de preocupar-me com
os negócios, em vez de ficarem todos preocupados comigo.
É por isso que agora sou presidente do Conselho de um negócio sem graça,
de 100 milhões de dólares. Há muitas caras e produtos novos por toda parte
e temos até um contrato com o Governo, não para ganhar dinheiro, mas por
questão de princípio, suponho. De qualquer forma, estou ganhando dinheiro
e tenho uma neta muito engraçadinha, graças em parte ao novo presidente.
Meu genro é quem faz tudo, viaja, trabalha o tempo todo. E eu sempre
recomendo à minha filha para acalmar os ímpetos do marido e sugerir a ele
a delegação de poderes. Nosso Psicólogo (agora temos um ), diz que seu
caso é de "envolvimento total".
Talvez seja melhor assim. Temos muitos empregados, clientes e fornecedores
que dependem de nós. Costumava pensar no que aconteceria a eles se eu
morresse. Agora temos acionistas e relatórios anuais para nos preocupar. E
até imagem. Meu novo escritório, por exemplo, é tão grande que nem posso
chamar minha secretária, a não ser apertando botões. Também não posso mais
despedir ninguém. Tudo é questão de hierarquia, relações humanas,
avaliação de atitudes e desempenho. Estamos nos afogando em gente e papel.
O sucesso faz coisas estranhas a um negócio de um homem só. E um genro
também.
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