Comer
só uma castanha por dia,
não mais do que isso, garante as doses de selênio de que
seu corpo precisa para preservar cada célula, por para fora possíveis
substâncias tóxicas e viver mais.
Cabe na palma da sua mão, e ainda sobra um espaço e tanto, a arma que vai
superproteger as unidades microscópicas do seu organismo. Em segundos, ao
mastigar uma única castanha-do-pará, você recarregará os níveis de
um mineral extremamente importante para uma vida longa e saudável: o selênio. A
pequena oleaginosa repõe a quantidade do nutriente necessária para dar combate
ao envelhecimento celular, causado pela formação natural daquelas incansáveis
moléculas que danificam as células, os radicais livres.
Um estudo da Universidade de Otago, na Nova Zelândia, atesta que a ingestão
diária de duas castanhas-do-pará
recentemente rebatizadas castanhas do Brasil,
eleva em 65% o teor de selênio no sangue. Mas provavelmente os neozelandeses não
usaram o legítimo produto brasileiro. Ora, nós somos sortudos. É que as
castanhas produzidas no Norte e no Nordeste do país são tão ricas em selênio que
bastaria uma unidade para tirar o mesmo proveito. A recomendação é de que um
adulto consuma, no mínimo, 55 microgramas por dia, diz a
nutricionista Bárbara Rita Cardoso, pesquisadora do Laboratório de Minerais da
Universidade de São Paulo. E com uma unidade da nossa castanha já é possível
encontrar bem mais do que isso de 200 a 400 microgramas do bendito
selênio. Aliás, o limite de consumo diário do mineral é de 400 microgramas,
portanto, não vá com muita fome ao pote. No caso de uma criança, meia
castanha seria suficiente, afirma Silvia Cozzolino, presidenta da
Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição.
E por que toda essa fama do selênio? Ele é essencial para acionar enzimas que
combatem os radicais livres, responde Christine Thomson, a pesquisadora
neozelandesa que investigou as propriedades da castanha. O selênio se liga a
algumas proteínas já existentes em nosso corpo para formar essas enzimas
antioxidantes, descreve, completando, Bárbara Cardoso. Na ausência dele,
as tais enzimas ficam sem atividade e, então, deixam de combater os radicais e
ainda desguarnecem as defesas do organismo.
O mineral da castanha também teria um papel especial na
proteção do cérebro. É que, com essa capacidade de acabar com a farra dos
radicais livres, as células nervosas seriam preservadas, evitando o surgimento
de doenças neurodegenerativas com a idade. Justamente por isso, a
pesquisadora Bárbara Rita Cardoso começa a estudar os possíveis benefícios do
selênio em portadores do mal de Alzheimer. A gente desconfia que nesses
pacientes os radicais façam maiores estragos, diz ela.
A tireoide também funciona melhor na presença do selênio,
acrescenta Christine Thomson. Isso porque, se não houver esse
elemento, ela não consegue produzir direito seus célebres hormônios. O mineral
também está intimamente associado à capacidade de o organismo se livrar de
substâncias tóxicas, ajudando-o inclusive a expulsar possíveis metais pesados
que se alojam nas células.
Apesar de tudo isso, o badalado selênio deve ser apreciado com moderação. Quando
os especialistas recomendam uma castanha diária, é para segui-lo à risca.
Acredite: o conselho não é nem um pouco mesquinho. Esse consumo ideal e comedido
é que faz todas essas enzimas que dependem do nutriente trabalharem de forma
adequada, diz Bárbara. Em excesso, o selênio não vai potencializar sua ação. E o
pior: mais cedo ou mais tarde, o exagero rotineiro vai revelar o lado negro da
substância. Sim, ele existe: a toxicidade. Ela acontece se a pessoa ingerir mais
de 800 microgramas por dia, adverte Silvia Cozzolino. É que o
selênio tem efeito cumulativo, emenda Christine Thomson.
Isso não significa que abusar das deliciosas castanhas em uma happy hour
com amigos traga grandes ameaças. De vez em quando, dá até para superar a
quantidade recomendada. O perigo é comer essas oleaginosas além da conta todo
santo dia. Quem experimentar ataques sucessivos de gula poderá sentir dor de
cabeça, ficar com as unhas fracas e ver seus cabelos caírem. Mas, quem come dez
castanhas hoje não vai se empanturrar delas amanhã, usa a lógica a expert em
nutrição Silvia Cozzolino. No máximo, o preço desse pecado será um
mau hálito parecido com o bafo de alho acredite!
Não corre o mesmo risco quem comer, vez ou outra, algum prato que leve a
castanha na receita até porque, seja doce ou salgado, dificilmente uma porção
reunirá tantas unidades. E saiba: nem o fogão nem a geladeira conseguem detonar
as reservas de selênio. No dia-a-dia, nada melhor do que a praticidade de botar
na mochila, no bolso ou na bolsa a sua estrela solitária. É saúde na medida
certa!
Para chegar à quantidade de selênio de uma castanha-do-pará (de 5
gramas ), você teria que consumir, em média, o equivalente a...
3 filés de frango ( 100 gramas cada um)
16 pães franceses ( 50 gramas cada um)
100 copos de leite (200 mililitros por copo)
10 ostras ( 33 gramas cada uma)
3 latas de sardinha em conserva ( 130 gramas cada uma)
COMIDA ANTITÓXICA
Uma das principais benesses do selênio é a sua capacidade de desintoxicar o
organismo. O mineral atua em mecanismos que favorecem a eliminação de metais
pesados pelas fezes e pela urina, explica a nutricionista Bárbara Rita Cardoso.
Esses metais nocivos, como o mercúrio e o arsênico, ficam impregnados no
organismo quando, por exemplo, consumimos peixes de má procedência, que vieram
de águas poluídas. E, daí, disparam inúmeros problemas em nossos tecidos, do
envelhecimento ao câncer algo que é freado com o sistema de limpeza acionado
pelo consumo da castanha.
SUPLEMENTAÇÃO, A POLÊMICA
A natureza oferece fontes de selênio, mas há quem prefira recorrer às cápsulas.
Estudos recentes revelam que isso pode ser bobagem: o melhor seria buscar o
mineral na comida mesmo. O selênio dos alimentos é mais bem absorvido pelo
organismo, justifica o pesquisador Alexei Lobanov, do Departamento de Bioquímica
da Universidade Nebraska-Lincoln, nos Estados Unidos. E, já que a quantidade de
que precisamos nem é lá tão alta, a suplementação deveria ficar restrita a casos
especiais.
TERRA BOA, FRUTO RICO
A concentração de selênio em um alimento depende do solo em que é cultivado. De
acordo com o engenheiro agrônomo José Urano de Carvalho, da Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária, a castanheira, nativa da floresta Amazônica
brasileira, além de ter uma incrível habilidade para extrair o mineral,
comparada a outras espécies, encontra na terra de lá uma enorme quantidade de
selênio. Por isso seus frutos são campeões no elemento. As castanhas-do-pará são
cultivadas pra valer na região Norte, especialmente no cinturão amazônico, mas o
Brasil já não lidera o ranking de produção da oleaginosa. Hoje é a Bolívia que
ocupa o primeiro lugar, revela Urano.
NOTA: A propósito do nome, tradicionalmente no
Brasil denominamos essa castanha de